O respeitoso Dandy

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Andava para o fazer a algum tempo. Hoje foi a gota de água. Tenho de fazer uma correcção ao que escrevi aqui algures sobre Manuel Alegre.

Existem dois tipos de eleitores no PS. Os que vão votar Sócrates porque votam sempre PS e os que vão votar Sócrates por suposta “falta de melhor”. Depois há aqueles que não vão votar PS porque só votariam PS se existisse PS. Estes últimos são os potenciais votantes de outras esquerdas, ou mesmo votantes de variados tipos de obscenidades, nesse apoio maciço ao branco, nulo e abstencionismo que se espera para as próximas legislativas.

Em Portugal, quem representa estas pessoas? Institucionalmente alguns movimentos cívicos, nos fóruns as frases oportunas e desconfortáveis, politicamente nada nem ninguém. Veio preencher esse espaço Manuel Alegre, com o seu ar namoradeiro da causa rija e com um timbre paternalista, bem ao jeito de um Presidente da República.

O que falta? Alguma sobriedade. Manuel Alegre é alguém que tem uma estima popular enorme e que colhe os frutos de uma personalidade anárquica que se cola muita bem ao descontentamento generalizado. Se a política tiver ainda alguma “Ciência Política”, Alegre será o candidato de Esquerda, e da Esquerda para as próximas presidenciais. O problema de Alegre é que a política tende para o minimalismo comunicacional, onde a imagem e o slogan vende ao invés da ideologia que cansa o eleitor. Esta é uma ideia comummente partilhada pela Ciência Política dos nossos dias. Alegre deixa assim o seu habitat natural, e como ainda assim quer o espaço político nessa eleição, entra em devaneio estratégico.

Fá-lo de forma a parecer o Dandy da Esquerda. Mistura a eloquência do desalinho que é sua e de um verdadeiro Dandy, com a superficialidade que é de um qualquer Dandy mas que nunca foi o seu trajecto. Falta a Congressos e Jornadas Parlamentares do seu partido e vai a fóruns da “Nova Esquerda”, espaços tão Dandy como ele quer ser e nunca foi.

A deferência que tenho por Manuel Alegre levou-me a escrever opiniões bem elogiosas a seu respeito. Hoje, ainda que com o mesmo respeito, tive que rectificar.

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