Te quiero Madrid

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Na janela do meu quarto,
De olhos bem abertos,
Numa amplitude que me encheu o coração.
O meu pequeno mundo improvisado e colono,
Pela última vez, aqui.

Um olhar em todo o meu redor,
A todas estas coisas de outros que adoptei,
Um enorme sorriso,
Eu, estupidamente feliz.

Estou a meio desta última vez.
Apercebo-me como o intermédio das coisas é importante,
Sublinhado por ser a última vez.
Esta viagem foi um belo intermédio…

Despojo-me das consequências,
Das preocupações, das razões,
E não há absurdos,
Não houve absurdos.
Estou estupidamente feliz.

Eis o apogeu sentimental de me estar a ir embora!
Estou a acabar aqui.
Agora, no final da última vez.

Saber despedir-me é estar estupidamente feliz com o vento seco daqui,
Com o desconforto do frio e do castelhano,
Com os medos, as conquistas pessoais e o balanço final.

Devo-te isto,
Te quiero Madrid.


Pedro Carvalho 31/01/09

Caso Freeport: Quando a desconfiança é um posto

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Apesar de me encontrar ausente no estrangeiro, como aliás é sabido da comum parte de leitores deste blog, acompanho com o maior detalhe que a distância me concede os acontecimentos que passam em Portugal. Esta condição tem levado a que o blog verse menos sobre a actualidade do que eu próprio desejaria, contudo, e infelizmente, parecem haver temas graves demais para até o mais foragido dos forasteiros se alhear. Falo-vos do “Caso Freeport”. Não tanto do caso em si, esse em investigação e segundo a Procuradoria-geral da República sem arguidos nem suspeitos, mas de todas as implicações e considerações lamentavelmente maquiavélicas que o cidadão atento vislumbra.

Este caso tem duas particularidades que não podem passar incólumes. A primeira prende-se com o facto de envolver da forma mais directa possível (judicialmente) ou da forma mais rebuscada (mediatização jornalística, alguma até mal intencionada) o Eng.º José Sócrates. Até aqui nada me tiraria o sono. A mim e a qualquer cidadão de verdade. A gravidade, num Estado de Bem seria até mesmo um tumulto, é que neste caso, referir Eng.º José Sócrates é tristemente dizer o Sr. Ministro do Ambiente e o Sr. Primeiro-Ministro de Portugal. Chegados aqui parece-me essencial reflectir. Até que ponto está a imagem do cidadão dissociado da imagem do cargo? Pura e simplesmente não está porque, a ser verdade, e nunca é demais relembrar que não há arguidos e que legal e eticamente existe a presunção da inocência, os ilícitos foram cometidos tendo como veículo o poder que os ditos cargos conferem. O simples facto de poder ser aceite socialmente e de forma pacífica que isto pode acontecer, é o mais arrepiante estandarte da queda civil da nossa democracia. Quando o comum cidadão não se choca com o arrepio das regras mais básicas e crê numa possibilidade tão vil é o sistema e a sua coesão que está posta em causa.

A segunda particularidade do caso é o seu carácter cíclico. Chega a nós como um cometa encalhado na Via Láctea que só e apenas aparece sempre que há eleições. Como se uma força, que num Estado de Direito só pode ser sinistra, reacendesse com interesses em circunstância alguma nacionais ou justos o caso. E é de Justiça que estamos a falar. Que máquina paira sobre nós? E que poder monstruoso é este de deturpar o Estado e os seus poderes, desde 1820 estabelecidos? Qual a sua falta de pudor e de escrúpulos? Inquietações de um cidadão que não vê sempre as notícias pelo mesmo canal…

Desvarios vários:Entrevista de Bruno Aleixo à TSF

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Eis a entrevista de Bruno Aleixo à TSF. Depois de algumas semanas esperando pelo sétimo e último episódio que teima em não vir, a entrevista a uma das maiores rádios nacionais. Mais um pouco do fenómeno da Internet e da SIC Radical...

Clicai aqui:
http://tsf.sapo.pt/programas/programa.aspx?content_id=917512

(Faltas de) Lucidez...

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Mas agora nas notícias só se fala do tempo? Que falta de assunto! A única coisa positiva disso é quando se viram para os "Velhotes" das aldeias do norte e lhes perguntam do tempo. Frequentemente a resposta vai dar ao: "Então pois, que é que quer minha senhora, é Inverno!". Está bom de ver que a culpa é da Protecção Civil, "esses bandidos que andam para aí sem impedir a neve de cair e a chuva de chover".

Estamos tão por baixo meus leitores...

Welcome, Mr. President

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"Os americanos escolheram a esperança ao receio".

"A nossa nação está em guerra contra uma rede de violência e ódio".

"Os nossos desafios são reais, mas nós vamos superá-los".

"A nossa economia enfraqueceu por causa da avareza e da irresponsabilidade".

"Começaremos uma retirada responsável do Iraque".

"Proporemos aos muçulmanos um novo enfoque".

"Derrotaremos os extremistas".

"Os EUA lutarão contra o fantasma do aquecimento global".

"Todos os outros povos do mundo, desde o país mais grandioso até à aldeia onde o meu pai nasceu, têm que saber que os EUA são amigos e que estamos prontos a liderar mais uma vez".


O Horizonte da Alma XIII

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Uma dor de cabeça ou uma dor de ideias?
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Andam gatos pretos no meu telhado! Espero que seja só imaginação...

Uma recessão para Portugal, faz favor...

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O governador do Banco de Portugal revelou hoje, o que sensatamente o Primeiro-Ministro revelava no dia anterior. Portugal está em recessão técnica. Somos aquela “economiazinha” que quer tudo o que os outros querem. Uma espécie de atrelado mal cheiroso e ferrugento, em tempos idos Império pujante, hoje de produção imberbe.

Ninguém é o culpado desta crise. Pelo menos, da caça às bruxas todos os políticos se livram. A situação conjuntural é de tal forma grave que por um ano deixaremos de pensar no atraso estrutural (nesse valeria a pena uma caça às bruxas) e concentraremos esforços em resolver o que inevitavelmente nos tocou à porta. Neste momento o nosso país, à semelhança de todo o mundo desenvolvido, produz menos do que o que já produziu. A crise do SubPrime levou os mercados financeiros a uma ameaça de colapso que envenenou os próprios mercados. Os títulos mais seguros afundaram-se em perdas astronómicas, os índices mantêm uma volatilidade anormal e já por várias vezes mostraram a sua força. Vários grandes bancos mundiais precisaram de um, na generalidade dos casos, saudável apoio governamental, noutros casos, como o Lehman Brothers, a falência foi o destino. Perante tudo isto, os bancos apertaram no crédito. Aumentaram spreads e limitaram mesmo as linhas creditícias a certos devedores. O dinheiro rareou, a indústria arrefeceu porque alimenta-se do dinheiro da banca e sobretudo porque o consumidor, sem o crédito não consome. Daqui para frente os mínimos conhecimentos de economia levam a que se suponha o resto. Desemprego, diminuição do produto, queda das exportações e abrandamento da inflação para um nível perigoso.

O Subprime não é negócio nosso, até porque os nossos bancos não têm dimensão para esse tipo de “cavalgadas financeiras”. O que é negócio nosso são as consequências dessa crise a uma economia que depende das exportações para crescer. O que é negócio nosso é a estrutura que os nossos bancos têm para aguentar ou não uma crise destas. O que é negócio nosso são as off-shores imorais e as administrações incautas. De banca, a face mais visível desta crise, estamos conversados.

Apanhados que estamos por esta crise, analisemos as medidas tomadas pelo governo e seus pares. Os pacotes de combate à crise consistem numa expansão brutal do investimento público. O investimento público pressupõe um custo, e um retorno. Ao custo devemos acrescentar que ele se repercutirá sob a forma de dívida pública. Na minha opinião, o investimento público é obviamente uma forma de expandir o consumo público, aliviando as empresas, colocando novamente dinheiro na economia e impulsionando a economia para a recuperação. Contudo, desengane-se o leitor que poderá achar que defendo este pacote de investimento. Mais do que aumentar o investimento é preciso aumentar investimento com retorno, porque em Portugal já não à grande margem para confundir investimento com despesismo! O grande problema deste pacote de medidas é que assume um aumento da dívida publica sem se certificar do retorno. Caso não fosse assim, Governo ou Banco de Portugal estimariam o impacto positivo desses investimentos, coisa que qualquer português merece saber e não sabe. Ninguém tem o direito a exigir contas exactas, se fossem possíveis não se tratava de investimento pois o investimento pressupõem um risco, mas o investimento consciente exige um maior rigor de análise. Relembro o que aqui escrevi por altura da escolha do aeroporto para a Margem Sul. Eu não discuto a localização porque como qualquer outro português não percebo de aviação ou de ornamento do território. Discuto a forma leviana com que as autoridades competentes insistem em tratar temas fundamentais.

Posto isto, e embora me pareça que já quase ninguém tenha dúvidas sobre a pertinência do investimento público de qualidade, pensemos em algumas possibilidades adicionais. Entre o CDS-PP defensor de uma descida de impostos a um PCP defensor de um aumento de subsídios e pensões sociais estudemos soluções. Nos dois casos o efeito teórico consiste em aumentar o rendimento disponível das famílias, sendo que no caso dos impostos, permitiria aumentar a capacidade de resistência das empresas uma vez que a tributação baixaria. Já no plano prático, as ideias impõem-se de formas totalmente diferentes. Uma descida dos impostos teria de ser temporária, o que implicaria uma subida dos impostos, algo que é de difícil implementação no espectro político. Já a extensão de subsídios permitiria fazer o “figurão político” sendo a sua posterior suspensão algo mais fácil de implementar. Mais acrescento que se os subsídios fossem também para as empresas, a política de subsídios em tudo ganha à de descida de impostos.

Sejam qual for os remédios para ultrapassar o calvário, ele aí esta. E nesse sentido, parece-me justíssimo abordar o aspecto fulcral da crise, o risco de desemprego. Será uma inevitabilidade: o desemprego vai subir em 2009. Isto porque com a recessão a economia não irá absorver trabalhadores e irá destruir alguns postos de trabalho. Resta-nos esperar pela recuperação sendo certo que a variável emprego recupera de forma um pouco desfasada da variável produto, o que nos pode induzir a um fim de ano já com diminuição do desemprego, caso a economia comece a recuperar em inícios de 2010. Em relação a isto, vale a pena lembrar a queda abrupta da inflação para 1%. Esta vai permitir aos funcionários públicos ter um aumento real no seu poder de compra de 1,9% (já que os aumentos serão de 2,9%), mas apesar de este ser em si um bom dado, transporta consigo o perigo da queda da inflação para um nível de deflação. Neste nível as empresas iriam falir com muito maior rapidez e o desemprego verdadeiramente explodiria! Cabe aos bancos centrais reduzir as taxas de juro para que assim se estimule o consumo e não se instale a deflação. Acontece que a esse nível, o FED já se debate com as taxas de juro mais baixas de sempre, o Banco Central Europeu ainda tem margem mas começa a ser preocupante.

Analisados todos os aspectos que me parecem fundamentais na crise, deixo para depois as deficiências estruturais e internas da nossa economia. O caminho não será fácil em 2009 e vai sendo certo que são grandes os desafios de Obama e seus pares europeus na luta contra uma crise que já só é legitimo comparar com a de 29.