Epílogo político de uma semana mais curta

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Hoje Pedro Passos Coelho escreveu um artigo no Jornal de Negócios. De título “Não ao Bloco Central”, Pedro Passos Coelho escreve o seu artigo. Seu na verdadeira acepção da palavra. Seu porque lhe assenta bem. Seu porque lhe é conveniente. Merece atenção.

Muitos dizem que Pedro Passos Coelho é demagogo. Um “estiloso moderno” que mais se apronta com a figura de “Sócrates do PSD”. Pois bem, tal como a palavra “estiloso”, também este imagem Socrática neo-liberal é algo que julgo não existir. Até porque, em última análise, o próprio Sócrates corporiza-a. Ainda assim Pedro Passos Coelho é moderno, isso é. Preconiza a juventude com ideias, e isso será a última coisa de que o possamos acusar. Não perde uma oportunidade para mostrar a sua matriz neo-liberal, veja-se o penúltimo parágrafo da sua opinião. Muito antes disso, Pedro Passos Coelho procura o essencial: usar da sua imagem de “Gestor e militante do PSD” como ele próprio assina o artigo, vulgo “independente mas pouco”. Parte dessa imagem para, por A mais B, designar o bloco central como uma tentativa de esvaziamento quer da alternância democrática, quer da alternância ideológica moderada do espectro político português. Manifesta-se um ostensivo reformista e um recôndito assustado pelo crescimento dos partidos radicais. O artigo é bom e é isto.

Por deslindar fica uma intenção indelével. Demarcar-se e definir as linhas pelas quais Manuela Ferreira Leite se terá de coser. Limitar as opções da actual líder é uma condicionante que neste caso é quase mortal. Isto porque pegando nas sondagens, algo que Pedro Passos Coelho também faz neste artigo, o próximo governo não estará no poder durante toda a legislatura, excepto se tiver maioria, o que a inviabilização do bloco central em muito limita. Mais limita se observarmos que BE e PCP não farão coligação com o PS e a escapatória será uma desconstrução ideológica total preconizada por um PS/CDS. Caindo o governo a meio da legislatura, em provável recuperação económica, Pedro Passos Coelho avança primeiramente sobre um bando de chacais sedentos de poder (PSD), cavalgando à posteriori sobre um PS esmagado na imagem de governo quedo e murcho. Assim lançará a sua estada de 8 anos de poder, numa segunda legislatura provavelmente em maioria absoluta.

Pessoalmente entendo que o artigo está correcto no essencial. Combater os radicalismos passa por acentuar diferenças entre o centro-esquerda e o centro-direita, algo que um bloco central apagaria. Para além disso, assumo o mesmo incómodo de Pedro Passos Coelho: nem ele quer o PSD coligado ao PS, nem eu queria o PS coligado com o PSD. Mas este é um dos raros casos em que a circunstância ajuda a determinar a norma. Quanto vale a estabilidade em tempo de crise? Muito, com certeza. Tanto que o fim justifica estes meios. Mais do que a crítica ideológica (noutras publicações lá chegarei), a grande crítica a fazer a Pedro Passos Coelho é que, não defendendo uma alteração do sistema democrático, como não só eu mas também outros defendem, acaba por desvalorizar a estabilidade governativa. Nos tempos que correm, essa vale ouro.

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