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"Na Europa, a beleza foi sempre premeditada (...) A beleza de Nova Iorque tem uma origem involuntária. Nasceu sem que houvesse qualquer intenção por parte do homem, um pouco como uma gruta de estalactites."

"Antes de deixar definitivamente o mundo, a beleza ainda há de subsistir por alguns instantes, mas por engano. A beleza por engano é o último estádio da história da beleza."

"Um por cima do outro, ambos cavalgavam. Ambos se encaminhavam para os horizontes longínquos pelos quais ansiavam. Ambos se aturdiam numa traição que os libertava. Franz cavalgava Sabina e traía a mulher, Sabina cavalgava Franz e traía Franz".

"O seu drama não era o drama do peso, mas o da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."

"...a mulher não resiste à voz que chama pela sua alma apavorada; o homem não resiste à mulher cuja alma se torna atenta à sua voz."

"Sim, pensava Franz, a Grande Marcha continua, apesar da indiferença do mundo, mas está a tornar-se nervosa, febril, ontem contra a ocupação do Vietname pelos americanos, hoje contra a ocupação do Cambodja pelos Vietnamitas, ontem para apoiar Israel, hoje pelos Palestinianos, ontem para apoiar Cuba, amanhã contra Cuba, e sempre contra a América, sempre contra os massacres e sempre em apoio a outros massacres, continua a Europa sempre a desfilar..."

"O Kitsch é a estação de correspondência entre o ser e o esquecimento."

"A cena passava-se em 1889 e Nietzsche, também ele, já se encontrava muito longe dos homens. Ou, por outras palavras, foi precisamente nesse momento que a sua doença mental se declarou. (...) Nietzsche foi pedir perdão por Descartes ao cavalo. A sua loucura (e portanto o seu divórcio da humanidade) começa no instante em que se põe a chorar abraçado ao cavalo."

"O tempo humano não anda em círculo, mas avança em linha recta. Por isso o homem não pode ser feliz: a felicidade é o desejo de repetição."

Citações de A insustentável leveza do ser de Milan Kundera

Milan Kundera, seguidor de Nietzsche, tem aqui a sua Magnus Opus, pelo menos nas palavras da crítica. Este romance do século XX, de carácter filosófico-político é uma obra circular, onde o fim é conhecido in media res mas não deixa por isso de ser fascinante. Para este fascínio, muito contribui os inúmeros parágrafos declarativos, que mais não são que reflexivos, do autor. Com uma escrita bem legível a dificuldade fica-se pelo elevado nível de abstracção das reflexões, bem como pela violenta carga intimista em alguns pontos da narrativa. Para este choque muito contibui o facto de estarmos habituados a ler romances latinos e não eslavos, tipicamente mais frios. Na minha opinião, ideal para quem gosta de romances com pendor filosófico ou para quem se interessa por obras que espelham os anos do Socialismo Soviético.

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