Que é feito de ti Gil?

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Na passada do comboio vi o Gil nas arrecadações da Expo 98. Alguns homens com uma braçada de tábuas carunchosas viravam costas ao símbolo. Era em toda a sua acepção perfeito! Desde o design simpático aos braços abertos que voavam em tempos de ilusão. Desde a cor, decerto a que era do céu e do Tejo de então, à franja ondulante que se chegava ao mar.

Desde aí, o Gil tem 11 anos e poucas histórias que contar. Já nem se chama, nem se vê, nem se cheira o mesmo dali. Por isso Gil saiu, foi para uma arrecadação destapada, porque ele só sabe ser o símbolo de 98. Quem não ousava enfrentar o vento e o frio em 98? Gil tem agora no olhar descolorado do sol um medo, uma fuga no aspecto. Talvez Gil tenha ido para ali porque não suportava ser outra coisa que não a Expo 98. Uma coisa é certa, tenho a certeza que ele foi pelo seu próprio pé.

Não pensem que o tempo não passou pelo Gil. Passou pois. Gil está queimado do sol, estalado do calor, com verdete do orvalho e da maresia do Tejo. Caíram-lhe os braços com que abraçava o Portugal que se expunha ao mundo. Na franja, um buraco, como que a calvície de um boneco. Só, desempregado, e com a dignidade que se lhe conhece, julgo que espera a caridade de quem o desmantele de uma só vez.

2 horizontes dispersos:

Miguel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel disse...

E o Quinas? Que é feito do Quinas?

(fui eu que removi o comentário anterior.. tinha-me enganado)