Um pequeno apontamento. Durante anos e anos os defensores do Capitalismo alegaram duas coisas. “O Capitalismo é um mau sistema mas o melhor até hoje inventado.” E a “Incrível capacidade do mercado para se recriar com uma flexibilidade impressionante.”
Estes chavões, ainda que verdadeiros ou talvez não, deram lugar a um erro ideológico grave. Uma “Ideocentria” envolveu os grandes pensadores económicos. Homens de um génio dotado para a álgebra e o raciocínio em múltiplas formas, mas que não são, por regra, bons entendedores dos conceitos normativos chave. Por duas razões essenciais: porque o seu habitat é o gabinete, e porque têm um entendimento político que se restringe ao positivismo científico, onde aliás são brilhantes. Não foi o génio destes homens mas o seu incauto aproveitamento que levou o Capitalismo a contradizer-se nos seus dois chavões. Para já, se é o melhor sistema, porque colapsou de uma forma que não é cíclica mas estrutural? E depois, pode-se questionar como a sua flexibilidade pode ser sinónimo do seu sucesso e da sua morte, na forma de sistema desregulado e tão perversamente criativo que desligou os activos financeiros do mundo real?
Já preparado para os possíveis comentários que liberais façam ao meu Blog, passo já à fundamentação destas duas perguntas. Na primeira, estarei errado? Não me parece pois caso a crise fosse de carácter cíclico, não se assistiria ao fenómeno de término para a Banca de Investimento nem se falava nos corredores das conferências mundiais num outro tipo de Capitalismo que é possível devido, precisamente, à sua capacidade de se reinventar. Em relação à minha segunda pergunta (retórica na acusação), entendo que se existe unanimidade nesta crise não é na forma do seu combate, nem entre Nobel´s (Krugman, Stiglitz, Soros e Prescott entre outros), mas sim na explicação para o seu arranque: o sistema financeiro. Este na pele dos seus activos tóxicos, geralmente hipoteca imobiliária altamente especulativa e outros tipos de activos financeiros que estavam construídos na lógica de que o lucro remunerava a imaginação e inovação financeira, concluindo: o mercado paga o que não é sustentável, paga mercados sem correspondência com a economia real.
O Capitalismo é de facto o melhor sistema que podemos ter, desde que assente num regime misto. Para gigante com pés de barro de tamanho impacto social, outras cautelas não se teriam justificado? Mais uma vez, como em qualquer outro sistema humano, a “Ideocentria” levou-nos à pior resposta.
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