Pede-se um Provedor de Bom Senso

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Eu assumo, o título é dúbio. Tanto serviria como critério de escolha, como para pedido cívico que faço para com a Assembleia da República. Neste caso refiro-me à segunda hipótese. Eu quero bom senso na Assembleia da República! Como não há, gostava de arranjar alguém que provesse bom senso aos deputados, um provedor para isso faz muita falta, acreditem.

Comecemos pelo inicio. Nascimento Rodrigues não pode ter prestações declarativas daquele nível, sob pena de todos nós o podermos censurar por tamanha falta de sentido de Estado que o próprio confundiu propositadamente com bacoquice e utilizando o termo “Salazarista” para arrepiar os incautos. Ora, deveria o Provedor saber que nem todos são incautos e que eu e muitos como eu, não aceitam que se considere o serviço à República e à Justiça como um serviço “salazarista bolorento”. Dava toda a razão ao Sr. Provedor antes destas declarações e agora considero que elas só se justificam num enleio de desespero a que a situação lamentavelmente chegou.

E de quem é a culpa de ter chegado aqui? Do PS e do PSD. Os dois partidos do centro aproveitaram-se desde há 20 anos para cá dos seus crónicos 2/3 da Assembleia da República para estabelecer uma coutada em espaço político, uma coutada inadmissível que retira legitimidade à função de Provedor. Se de facto se pretende ter no Provedor a única coisa que ele pode ser, um agente do Estado de Direito que provê Justiça, e se a Justiça é recta e justa por definição, desde Platão aos dias hoje, como pode ser nomeado o Provedor sem nunca se ouvir todas as forças políticas que legitimamente representam as sensibilidades políticas em Portugal?

Agora zangaram-se as comadres e consequentemente… Dissolveu-se o compadrio! Pelo meio o PSD cria um imbróglio político sem sentido até porque o nome em causa parece ser consensual, mais, arrisca-se a que o PS consiga sem o PSD os 2/3, o que seria o equivalente a ser atropelado por um camião TIR cheio de gago suíno vivo só pela teimosia de não querer sair do meio da estrada! O PS, não por bom senso mas por necessidade, vai ao parlamento propor um nome: Dr. Jorge Miranda. Nesta história, está para já bem o PCP que já declarou ser necessário um entendimento entre todos os partidos, nem que seja para ouvir os nomes propostos por cada um.

O que falta a esta história? Duas coisas que a serem verdade enojam qualquer um que tenha votado PS nas últimas legislativas. Em primeiro lugar será tão “birrento” o PSD que não aceita o Dr. Jorge Miranda, como o PS que não responde ao nome do PSD. O PS não precisava de concordar, precisava apenas de dialogar com o PSD. Em segundo, as notícias de hoje que dão conhecimento de que o PS ainda nem sequer iniciou contactos com todos os outros partidos para chegar a um consenso. As questões de Estado não parecem ser urgentes para este Governo.

Nas questões de desempenho dos actos de Estado sou sempre violento na crítica pois acredito que é no bom serviço público que se poderá construir o bom governo, outros cronicamente assim não pensam.

2 horizontes dispersos:

Miguel disse...

É imbróglio do camandro, numa casa onde todos (PS, PSD e afins) ralham e ninguém tem razão.
E não digo como o Marcelo Rebelo de Sousa, que tem de ser um procurador novo, para poder ficar lá algum tempo, tem de ser alguém competente.
O PSD não tem razão, e se a tinha, perdeu-a. O PS fez jogo menos limpo, lançando (à pressa, na minha opinião) o nome de Jorge Miranda para fora, para deixar o PSD mais enfraquecido nesta matéria.

Abraço!

João Gante disse...

Eu acabo encurralado e a concordar com o nome do Jorge Miranda. Parece que, realmente, daria um provedor isento - chega, para mim.

Quanto às declarações de Nascimento Rodrigues, já tinha feito algo do género quando disse que nenhum governo lhe havia dado tanta água pela barba (não por estas palavras). Concordei na altura, concordo agora. Já Pacheco Pereira havia dito saber de fonte segura que Sócrates era o principal responsável pelo imbróglio. Não pretendo desculpar o PSD, mas não me custa acreditar. Agora, passar todas as culpas para os meninos da Manela só por causa do "caso Miranda" é distorcer a questão. Há, como dizes, uma coutada. Era altura de os expropriar.