Escrevo umas linhas sobre um pensamento que me assaltou, durante o exíguo tempo de que tenho disposto. A qualquer europeu, mais empedernido como eu assumo ser, ou mais globalizado como é igualmente possível e desejável, os escritos de Thoreau indispõem o espírito. Não é uma impressão que fique por muito tempo, mas parece-me sério argumentar que quando um europeu lê A Desobediência Civil, fica por momentos com a percepção de que chamam a um folhetim revolucionário um obra basilar! Eu por exemplo, indignei-me a priori com a crítica ao ensino superior que Thoreau faz em Walden, depois percebi-a, e agora até convivo com ela. O que se passa é que, ao contrário das pessoas, as instituições precisam de gerações inteiras para amadurecer ideias e destruir rótulos. Por isso, se quisermos falar de liberais, o conspícuo John Stewart Mill está num patamar de reconhecimento público e filosófico muito superior ao de Thoreau.
Do mesmo modo, a estrutura das administrações, sobretudo as públicas e que se fazem sobre o bureau, ainda vai assentando nestas ideias mais clássicas, das quais os europeus não querem abdicar. Por isso, os Estados estão cravejados de funcionários e são grandes. As máquinas administrativas europeias são filhas de pequeninas máquinas administrativas que se foram “desenvolvendo”, netos da voyeur administração soviética, ou descendentes afastados de uma egrégia administração pública cavernosa e total. Os países que rectificam o Tratado de Lisboa vêm destas realidades administrativas, e têm em comum a base estatal como comprometimento social. O empreendimento social do Velho Continente assim o pareceu exigir.
Do mesmo modo, a estrutura das administrações, sobretudo as públicas e que se fazem sobre o bureau, ainda vai assentando nestas ideias mais clássicas, das quais os europeus não querem abdicar. Por isso, os Estados estão cravejados de funcionários e são grandes. As máquinas administrativas europeias são filhas de pequeninas máquinas administrativas que se foram “desenvolvendo”, netos da voyeur administração soviética, ou descendentes afastados de uma egrégia administração pública cavernosa e total. Os países que rectificam o Tratado de Lisboa vêm destas realidades administrativas, e têm em comum a base estatal como comprometimento social. O empreendimento social do Velho Continente assim o pareceu exigir.
Noutras terras não é assim, e na América, continente de salteadores e tribos, posteriormente ocupado por europeus salteadores e tribos africanas violentamente depositadas, é normal que um qualquer homem se faça ao mester de construir uma cabana num monte, com a única regra de não ter de dar satisfações (episódio de Thoreau em Walden). Talvez por isso, a liberdade de Thoreau, tão absoluta quanto irascível e odiosa para com o Estado, tem esplendor no livre empreendedorismo americano. E para nós europeus, toda a liberdade assenta quase num compromisso que nós temos com a sociedade, e que a sociedade tem para connosco; ou seja, a liberdade de Mill. É deste modo para nós ultrajante a liberdade de Thoreau, porque ela é o caos da livre iniciativa e não a doutrina da livre iniciativa. Por isso vamos continuar assim, europeus, a ler Thoreau por gosto à literatura e Mill por reverência pública.
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