O sonho dum homem ridículo & O ladrão honesto

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"Mas se queres castigar-me pelo meu insensato suícido, com a insasatez de continuar a existir..."

"Uma Terra também infeliz e pobre, mas não menos apreciada e sempre querida, que inspire o mesmo doloroso amor aos seus mais ingratos filhos, como a nossa Terra?"

"Eu quero dor para poder amar."

"Conheceram a vergonha e erigiram-na em virtude. Surgiu o conceito de honra e cada bando se uniu à sombra da sua bandeira."

"O conhecimento da vida está acima da vida; o conhecimento da felicidade... está acima da própria felicidade... Eia aquilo contra que se deve lutar."

Frases retiradas do conto "O sonho dum homem ridículo" de Fiódor Dostoiévski

Num dos livros da editora Quasi, edição de bolso, temos dois pequenos contos de Dostoiévski, “O sonho dum homem rídiculo” e “O ladrão honesto”. Cada um deles lesse numa tarde e retratam ambos situações de proximidade com a morte. Aliás, estes dois contos foram escritos em 1877, quatro anos antes da morte do escritor.

No primeiro, trata-se de um sonho de um homem que é considerado por todos ridículo, isto porque anda numa espécie de pregação desde que teve um sonho. O sonho consiste na descrição, de certo modo pormenorizada, dos sentimentos e acções dos homens num mundo perfeito. A forma como a descrição do sonho se entrelaça na história é uma sublime aplicação do mundo do fantástico. Dou-vos como exemplo que o sonho começa com a morte do sonhador, o que se confunde com a história uma vez que o sonhador tem intenção de se suicidar. Estas ambivalências entre a realidade da personagem e o seu sonho são comuns, o que torna o discorrer da narrativa bastante original, só ao alcance dos melhores novelistas. O fim do conto, que mais não é que um conjunto de recomendações para memória futura, está adocicado pela última frase deste.

A história de “O ladrão honesto” é bem mais simples. Trata-se de um roubo com fim enigmático que nos lança sobre um outro roubo, passado, que é contado por Ivanitch. O conto decorre sobre toda a relação entre Ivanicth e um bêbado a quem ele dá abrigo. Por fim, dois aspectos estéticos a ter em atenção. Ivanicth não nos é apresentado inicialmente no conto, o que nos leva a pensar que não deverá ser a personagem principal do mesmo. O outro aspecto estético é fim torrencial do conto, que duas páginas antes do fim parece estar completamente inacabado. Isto só é possível através de uma sequência de diálogos e pensamentos muito dinâmica, algo que é imprimido desde o início do conto e que denota a mestria do escritor em articular diálogos e monólogos interiores.

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