Do avançar Portugal, à prudência lisboeta

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Após a visualização dos cartazes políticos referentes às eleições autárquicas de Lisboa, salta a vista o logos discursivo. Este avança, curiosamente, no sentido paradoxalmente oposto ao sentido da retórica legislativa. Este paralelismo inverso poder-se-ia aplicar de igual e justa maneira ao PS e ao PSD, o que faz do assunto, o paroxismo da retórica política da dupla jornada eleitoral.

Analisemos, sem hipocrisias, as mensagens que nos inculcam pela forma subliminar, sejam elas cartazes, músicas, tempo de antena ou quaisquer outras actividades propagandistas. Em ambas as eleições vivemos o confronto entre a vanguarda e a sua vertigem. É claro que não saímos do “mundo dos espelhos” e que não passamos da má prática do entimema, mas a verdade é que foi este o hiato de confrontação. Se a nível nacional Sócrates etiquetava a indigente mensagem com o slogan “Avançar Portugal”; Manuela Ferreira Leite, quase por exercício de contraponto e não por instinto declarativo, apregoava a inconsistência do “avanço” e num grito surdo frisava a risco de um Portugal irremediavelmente perdido. Portugal preferiu a inconsistência dos sonhos e da música canora à firmeza de aspereza paralisante.


Hoje, nas ruas de Lisboa, nas rádios do carro, e nas nossas televisões, amplificadas por lugares de opinião, assistimos ao mesmo confronto, mas com uma inversão destrutora. Pedro Santana Lopes pauta a sua actuação “porta-a-porta” como os livros de política tradicional, se eles houvessem sobre a forma de guia, indicam. Isto é, joga no contraponto e na crítica ao trabalho feito por António Costa. Para marcar a diferença usa o eleitoralismo próprio dele e dos cartazes, prometendo alterar decisões, projectos em curso e apresentar novas soluções para problemas congelados por António Costa. Pedro Santana Lopes é nesta campanha, o digno herdeiro do “porreirismo” Socrático.

Por seu turno, Costa joga tudo no “cumprimos”. Os vocábulos são de contenção, responsabilidade e até de algum Sentido de Estado (como que aludindo a ausência de pose por parte do adversário). São armas pouco próprias da tradição esquerdista portuguesa. Uma notória descida das expectativas e colagem ao rigor como condutores de um pathos não amigável mas credível. Estamos, portanto, no nível narrativo similar ao de Manuela Ferreira Leite.


Domingo, um projecto, algures entre o retórico e o real, será escolhido para a capital. António Costa gere um caldo delicado, onde se agitam Sá Fernandes e Helena Roseta e que só mesmo sem grandes ondas não entornará. Pedro Santana Lopes gera as expectativas de dar um "sentido" à capital. Esperemos que sobre alguém para gerir Lisboa.

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