Nas folhas Amistosas há o Café & Té, de uma amiga; e nas Folhas Soltas está Las Vancances de Hegel. Dois blogs bem feitos, com uma trago de intimismo, que trazem uma outra forma de ver os horizontes do mundo.
Logística: duas descobertas
Nas folhas Amistosas há o Café & Té, de uma amiga; e nas Folhas Soltas está Las Vancances de Hegel. Dois blogs bem feitos, com uma trago de intimismo, que trazem uma outra forma de ver os horizontes do mundo.
"Quasi", o meu lamento e obrigado
Com efeito, trata-se de um preocupante sinal dos tempos, num país com pouco espaço para o novo, e onde a cultura é vista como um sorvedouro público pelos mais eminentes responsáveis. Esses têm sido os verdadeiros algozes da cultura, provocando um empobrecimento da elite cultural, e pior ainda, um hiato gigantesco entre o cidadão paupérrimamente letrado e o cidadão de espírito fomentado. Com o fecho deste tipo de editoras, por onde afortunadamente muito li, vai triunfando a aculturação massiva. Um dia hão de querer pensadores e bons cidadãos… e já agora democracia participativa...
O sonho dum homem ridículo & O ladrão honesto
"Uma Terra também infeliz e pobre, mas não menos apreciada e sempre querida, que inspire o mesmo doloroso amor aos seus mais ingratos filhos, como a nossa Terra?"
"Eu quero dor para poder amar."
"Conheceram a vergonha e erigiram-na em virtude. Surgiu o conceito de honra e cada bando se uniu à sombra da sua bandeira."
"O conhecimento da vida está acima da vida; o conhecimento da felicidade... está acima da própria felicidade... Eia aquilo contra que se deve lutar."
Frases retiradas do conto "O sonho dum homem ridículo" de Fiódor Dostoiévski
Num dos livros da editora Quasi, edição de bolso, temos dois pequenos contos de Dostoiévski, “O sonho dum homem rídiculo” e “O ladrão honesto”. Cada um deles lesse numa tarde e retratam ambos situações de proximidade com a morte. Aliás, estes dois contos foram escritos em 1877, quatro anos antes da morte do escritor.
No primeiro, trata-se de um sonho de um homem que é considerado por todos ridículo, isto porque anda numa espécie de pregação desde que teve um sonho. O sonho consiste na descrição, de certo modo pormenorizada, dos sentimentos e acções dos homens num mundo perfeito. A forma como a descrição do sonho se entrelaça na história é uma sublime aplicação do mundo do fantástico. Dou-vos como exemplo que o sonho começa com a morte do sonhador, o que se confunde com a história uma vez que o sonhador tem intenção de se suicidar. Estas ambivalências entre a realidade da personagem e o seu sonho são comuns, o que torna o discorrer da narrativa bastante original, só ao alcance dos melhores novelistas. O fim do conto, que mais não é que um conjunto de recomendações para memória futura, está adocicado pela última frase deste.
A história de “O ladrão honesto” é bem mais simples. Trata-se de um roubo com fim enigmático que nos lança sobre um outro roubo, passado, que é contado por Ivanitch. O conto decorre sobre toda a relação entre Ivanicth e um bêbado a quem ele dá abrigo. Por fim, dois aspectos estéticos a ter em atenção. Ivanicth não nos é apresentado inicialmente no conto, o que nos leva a pensar que não deverá ser a personagem principal do mesmo. O outro aspecto estético é fim torrencial do conto, que duas páginas antes do fim parece estar completamente inacabado. Isto só é possível através de uma sequência de diálogos e pensamentos muito dinâmica, algo que é imprimido desde o início do conto e que denota a mestria do escritor em articular diálogos e monólogos interiores.
Toda a Poesia de Manuel Alegre
Aquisições FNAC'ianas
E já que hoje me sinto com todo o direito de reclamar, para quando o IVA de 5% nos artigos que provêem cultura? Não falo em DVD´s e séries, mas só em livros foram mais de 20 contos em moeda antiga! António Lobo Antunes é que tem razão "Os livros são obscenamente caros.".
Pacheco Pereira tem aqui material...
A tomar atenção ao: "O destino pregou uma partida a Pimpinha..." ou "Pimpinha engravidou de surpresa...".
P.S. A entrevista é muito longa e eu só li o cabeçalho e a parte lateral (que estava na página da Sapo tal a importância do artigo), se alguem ler mais frases destas comentem porque são coisas muito precisas a todos nós.
Caim, o de que todos falam
O que realmente me parece é que Caim, é revanchista, e consequentemente um mau livro. Tenho esse palpite. Um palpite que admito, é desonesto pois não li o livro nem o quero ler enquanto cada frase de Saramago ou de contra-Saramago for publicidade gratuita a "Caim". Mas porquê tal obra agora? Acho que Saramago, tendo já estado às portas da morte, não quis deixar para outra encarnação a vingança do que lhe fizeram no início da década de 90, quando o governo português excluiu "Evangelho Segundo Jesus Cristo" de uma lista de livros a enviar para um prémio literário internacional. Esse ignomínia própria dos biltres que nos aculturam deve ser uma espinha entalada na garganta de Saramago. Regurgitou-a agora.
O único facto de que disponho compõem o meu prognóstico
O Processo
"...Da lei (...) não consta que os juízes possam ser influenciados. Ora, a minha experiência diz exactamente o contrário."
"Tu aceitas como demasiado óbvio tudo aquilo que os teus amigos fazem por ti."
"É um erro. Como é que um ser humano pode ser culpado. Nós aqui somos todos seres humanos, tanto uns como os outros."
"O texto é imutável e as opiniões são, muitas vezes, apenas a expressão do desespero."
"Como um cão! Disse ele, era como se a vergonha lhe devesse sobreviver."
“O Processo”, obra emblemática do século XX, e considerada por muitos como a magnus opus de Franz Kafka é um livro de excertos, amigavelmente coleccionados a título póstumo por um amigo de Kafka. Estando a história da vida de Kafka ligada ao Direito, é plausível acreditar que a personagem Josef K. seja o próprio Kakfa, e que a história, com elevado grau de surrealismo, seja uma impressão do escritor sobre a encruzilhada da sua vida (não esquecer que Kakfa morreu num manicómio).
Quanto ao livro, é de fácil leitura, e até de certa forma recomendável quando a vida do leitor estiver mais atarefada. É que como compilação de escritos, a história torna-se divisível, ainda que seja sempre linear, á volta de um processo que se estabelece à personagem. Sem nunca haver um derradeiro encontro com o juiz do processo nem com a sala de audiências, transparece clara e propositadamente, a ideia de Justiça como arquétipo, impossível de alcançar, e imperfeita na justa medida da imperfeição humana. Tal como em “Metamorfose”, a história é terrivelmente claustrofóbica. Mas ao contrário de “Metamorfose”, o fim não é abrupto, e vai-se percebendo durante a leitura. Pessoalmente, o livro não me “agarrou”, mas é interessante e excêntrico, uma boa leitura sem dúvida! Na minha edição do livro, havia até espaço para “Fragmentos”, isto é, escritos que não foram integrados na história, mas que são belos apêndices e que ajudam a explicar a incursão de algumas personagens que no fio condutor da narrativa aparecem só ao de leve. Por fim, fiquem com a certeza que o caso jurídico se resolve num fim fechado.
O Horizonte da Alma XX
Thoreau e o Imobilismo Europeu
Do mesmo modo, a estrutura das administrações, sobretudo as públicas e que se fazem sobre o bureau, ainda vai assentando nestas ideias mais clássicas, das quais os europeus não querem abdicar. Por isso, os Estados estão cravejados de funcionários e são grandes. As máquinas administrativas europeias são filhas de pequeninas máquinas administrativas que se foram “desenvolvendo”, netos da voyeur administração soviética, ou descendentes afastados de uma egrégia administração pública cavernosa e total. Os países que rectificam o Tratado de Lisboa vêm destas realidades administrativas, e têm em comum a base estatal como comprometimento social. O empreendimento social do Velho Continente assim o pareceu exigir.
Desmontem a traquitana
Alfred Nobel fazendo acrobacias tumulares
Os prémios Nobel foram brutalmente politizados este ano! Se a galardoação de Herta Muller parece apenas ser explicável pela temática anti-comunista da sua obra (que em Portugal é curta e até agora inexpressiva, o que não é necessariamente mau), já a distinção de Obama para prémio Nobel da Paz é uma subserviência descarada.
Ainda que pouco conhecida, Herta Muller é já uma pluri-galardoada. Ganhou inúmeros prémios na Alemanha e é multifacetada, escrevendo tanto em prosa como em verso.
Já Obama não é galardoado nem internacionalmente reconhecido pela paz conseguida, só pela tentada, e de forma algo difusa diga-se. Mas ao contrário de Herta Muller é um fenómeno mediático quase sem precedentes. Bem sei que a exposição mediática de um escritor é sempre menorizada face á de um político. Mas a questão é saber, até que ponto algum homem, por mais divino que seja o seu magistério, consegue arquitectar uma Pax Romana em 8 meses de mandato. E esforço por esforço, há muitos homens a tentar à bem mais tempo.
Nota: Não contesto o pacifismo da figura, apenas o timing da premiação e a sobretudo a substância da matéria laureada. Obama actuou de forma muito profícua nos acordos nucleares com a Rússia. A sua intervenção no périplo Europeu foi em tudo benéfica, especialmente na República Checa. Daí a ser um promotor da paz como um devir bem conseguido, vai a diferença que eu contesto.
Nota: Longe de mim duvidar da Academia Sueca, quer no seu bom senso, quer na sua boa vontade.
O Horizonte da Alma XIX
O mundo é um farisaísmo
Obama está de facto muito subserviente. Primeiro com a Rússia, agora com a China. Pelo meio, algo de relevante mudará? Essa era a esperança de todos nós...
Do avançar Portugal, à prudência lisboeta
Analisemos, sem hipocrisias, as mensagens que nos inculcam pela forma subliminar, sejam elas cartazes, músicas, tempo de antena ou quaisquer outras actividades propagandistas. Em ambas as eleições vivemos o confronto entre a vanguarda e a sua vertigem. É claro que não saímos do “mundo dos espelhos” e que não passamos da má prática do entimema, mas a verdade é que foi este o hiato de confrontação. Se a nível nacional Sócrates etiquetava a indigente mensagem com o slogan “Avançar Portugal”; Manuela Ferreira Leite, quase por exercício de contraponto e não por instinto declarativo, apregoava a inconsistência do “avanço” e num grito surdo frisava a risco de um Portugal irremediavelmente perdido. Portugal preferiu a inconsistência dos sonhos e da música canora à firmeza de aspereza paralisante.
Por seu turno, Costa joga tudo no “cumprimos”. Os vocábulos são de contenção, responsabilidade e até de algum Sentido de Estado (como que aludindo a ausência de pose por parte do adversário). São armas pouco próprias da tradição esquerdista portuguesa. Uma notória descida das expectativas e colagem ao rigor como condutores de um pathos não amigável mas credível. Estamos, portanto, no nível narrativo similar ao de Manuela Ferreira Leite.
Domingo, um projecto, algures entre o retórico e o real, será escolhido para a capital. António Costa gere um caldo delicado, onde se agitam Sá Fernandes e Helena Roseta e que só mesmo sem grandes ondas não entornará. Pedro Santana Lopes gera as expectativas de dar um "sentido" à capital. Esperemos que sobre alguém para gerir Lisboa.
Selectividade até para consigo mesmo
A já paranóica imagem de isenção eleitoral espantou a primordial Figura de Estado do único lugar que deveria ocupar, a cerimónia oficial. Cavaco preferiu fazer de gaiato rebelde que não vai á festa, atormentado por ideias bafientas de um velho doentiamente zeloso.