Vem tarde e em má altura

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O caso de hoje promete agitar a vida política portuguesa, que só por si está já agitada, tal é o cheiro a garraiada. No meio do desnorteio, e sem tentar deslindar aquilo que até ao momento é insondável, eis a minha opinião sobre este improvável acontecimento.

Em primeiro lugar eu acho que anda tudo doido! As garraiadas de Setembro e Outubro elevam o combate político ao tom soprano, só a letra é que não me convence… Já li e ouvi bonitas estórias, todas elas tão credíveis como a verdade absoluta ou a mentira mais óbvia (coisas que nesta história se prometem confundir por muito tempo). Entre elas destaco duas, sem comparar ou preferir. “Isto de certeza que é coisa do Sócrates! Não foi ele pela frente, mas por trás… Aquilo não lhe dava jeito nenhum e o homem não se conseguiu controlar! Usou o Estado para calar a TVI. Via Prisa, via Direcção da TVI, Via Verde… Ou então pior! Pagou à OnGoing para contratar o Moniz!” (sim eu já li a do Moniz também). Mas depois também temos os sectários da outra banda: “Isto é obviamente coisa da Manuela Ferreira Leite! Ela sabia que se o Jornal de Sexta fosse ao ar, ela poderia vitimizar a TVI, e o povo português, pimba; tudo em massa a votar na seta libertadora dos povos, qual paladino da democracia moderna!”. Ridículo…

Vai tão longe a imaginação dos alienados sanguinários dos partidos como foi o mau jornalismo daquele “noticiário”, ou melhor dizendo, “opinário”. Por isso, e a bem da isenção do Folhas ao Horizonte, reafirmo desde já o meu total desacordo e abjecção que nutria pelo Jornal de Sexta, um espaço noticioso tecnicamente mau, tendencioso e de investigação especulativa, muitas vezes romanceada. Mas estarei feliz por este encerramento? Não, claro. Porque ainda que perceba que a longo prazo é positivo para um país de espectadores nada selectivos banir o mau jornalismo, o que eu preferia era que os cidadãos por si próprios o tivessem banido. Banir por conveniência ou por decreto encapotado (caso as piores suspeitas se confirmem) um espaço dos media, é violador dos mais básicos princípios democráticos, e uma histórica mutilação da verdade do regime e dos valores expressos na Constituição. É, sem mais, o mal divino de um Estado; quer ao nível moral e ético (deveres subjectivos), quer ao nível jurídico e institucional (deveres expressos por assim dizer). E para os mais acérrimos defensores da Democracia, eis o compêndio nas palavras de Thomas Jefferson: ”Se eu tivesse que escolher entre um governo sem jornais e jornais sem um governo, eu não hesitaria em ficar com a segunda opção.”

O leitor está a pensar: “Caramba, ele fala do assunto mas não acusa nem defende, não se demarca, não escolhe… Este tipo é aborrecido!”. Queira vossa excelência saber que isto me preocupa deveras. Apenas não temos dados para justamente acusar, apenas suspeitar, e por enquanto, fica tudo dito da minha parte. Tudo não! Sabem que mais? As eleições fazem mal à malta! Atropelam-se entre eles, cospem-nos nos olhos, especula-se com excitação, dão-nos o joio a sorrir em cartazes. Para o Diabo que vos carregue!

Os leitores que me perdoem o mau nível estilístico deste texto mas é que hoje, nem eu me inspiro no assunto, nem o assunto me inspira... confiança... Boa noite, ela é a Manuela Moura Guedes, e este… o País que lhe/nos cortou o pio.

1 horizontes dispersos:

João Gante disse...

Caso queiras ver, está no meu blog um texto sobre uma editora de política da TSF que também se viu "remodelada" para o olho da rua e substituída pelo responsável pela rubrica automóvel da estação. Isto depois de uma divergência com Sócrates sobre o conteúdo de uma peça jornalística e de terem chegado a discutir a um jantar.

O que eu acho fantástico é que tanta gente ache que quem culpa o Sócrates por isto diz que houve um telefonema ontem para a Prisa. Provavelmente, Sócrates não toca no caso TVI desde a tentativa de compra pela PT - em que ele mentiu descaradamente. Não precisa, também. Durante o tempo em que proferiu aquele arrazoado de insultos que nem a um secretário de estado se admite, Sócrates criou o ambiente e pressão perfeitos sobre a TVI e a Prisa. O quase-negócio sobre a PT - que, se se concretizasse, ia dar no mesmo que se passou ontem - criou o resto. Era só isso que o chavez de S.Bento precisava de fazer. Criar ambiente.

E agora, claro, cai toda a gente na armadilha de dizer que ninguém poderia ser assim tão estúpido. Pois não...pois não...

http://blasfemias.net/2009/09/03/uma-coisa-muito-estupida/

O teu texto seria perfeito para um furacão. Muita preocupação com o país, mas sem culpados. Claro. E provas pedidas, que tem de se poupar no senso comum e no concluir pela própria cabeça com os dados que temos. Parece que não há antecedentes nestes quatro anos. Ao menos, louvado sejas, dizes e bem que o facto de o jornal da TVI ser mau (na tua opinião) não justifica isso. Estarás do lado certo quando passarmos ao próximo nível de aperto à democracia - sem sarcasmo.