Manuela Ferreira Leite foi constrangedora

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No final de um debate que poderia ser fácil para Manuela Ferreira Leite, Louça esmagou. Louça levou o debate para questões fracturantes, e para o bem ou para o mal, concorde-se ou não, esteve brilhante. Aliás, o grave problema de Manuela Ferreira Leite foi ter gostado tanto como eu do que ouviu de Louçã. Muito provavelmente por uma densa opacidade oratória, Ferreira Leite teve medo de contrapor, anuiu com frequência, e as suas repostas, presas às orientações de voto do PSD na Assembleia da República foram absurdas do ponto de vista da Lógica. Valeu pela economia, onde em alargados aspectos, tem o melhor programa eleitoral entre todos os concorrentes. Contudo, a ideia de um SNS privado em paralelo ao público terá de ser algo a rever.

Hoje ficámos a saber que Ferreira Leite, afinal, respeita todas as construções familiares, apenas as considera díspares. Mas assim sendo, onde cabe a oposição feroz ao regime das uniões de facto? É absolutamente respeitável uma posição contra ou a favor do casamento homossexual, pelo motivo de serem reuniões familiares antagónicas. O que não posso aceitar em Ferreira Leite é que concorde com Louçã, defenda a liberdade de escolha familiar e vote contra uma lei importante para o alcance dessa liberdade de escolha. Ouvindo o PSD à data da celebração do veto presidencial, percebe-se um PSD conservador, contra a liberdade de escolha em absoluto. Ouvindo Ferreira Leite hoje, percebe-se um PSD que deveria ser totalmente a favor da lei das uniões de facto, e unicamente contra o casamento Homossexual. Ambas as posições são admissíveis, mas incompatíveis no mesmo espaço e praticamente no mesmo tempo cronológico. Há uma clara ideia de que Ferreira Leite está em desacordo com as orientações ideológicas da sua bancada parlamentar, e não sendo dotada de retórica, baqueia vistosamente nestes campos.

Mesmo a terminar a entrevista, o momento da noite. Ferreira Leite sabe, e afirmou-o, que de facto teria havido um processo de intervenção estatal no afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI. Algo já afirmado pelo próprio, diga-se em bom rigor. A diferença, segundo Manuela Ferreira Leite, é que um era comentador, e Manuela Moura Guedes jornalista. Ou seja, para o PSD há diferentes níveis de censura. Para mim há diferentes níveis de descaramento, a censura é a mesma.

Entretanto alguém registou o desabafo: “O que o Engº. Sócrates pensa é-me indiferente.”? Por vezes o ódio tolda os espíritos. Com todo o direito à discórdia, penso que a líder da oposição devia ter em atenção o que Sócrates diz. Nós, os que os sufragamos, temos.

7 horizontes dispersos:

João Gante disse...

Não vi o debate...em minha casa ganha a maioria e a maioria preferiu ver o Open de Nova Iorque. Em relação a Manuela Ferreira Leite vs Regime das Uniões de Facto:

Onde raio é que uma lei que homogeniza as duas opções de união disponíveis para um casal (união de facto ou casamento) é a favor da liberdade? Se, sigas pelo caminho da esquerda ou da direita vais dar ao mesmo, que liberdade de escolha encontras aí? Faz todo o sentido ser contra essa lei. Até porque foi uma forma cobarde de encapotar mais direitos para casais homossexuais. O que - mesmo que eu concorde com esses direitos acrescidos - é de uma, reafirmo, cobardia do mais roedor que existe. Estas questões são para ser discutidas em sociedade. Farto estou eu da tinta de burrice e ignorância com que o ignorante S.Bento tem pintado a sociedade. Agora, dizeres que a lei das uniões de facto é pela liberdade...espero que não seja pelas bandeiras e cartazes da pândega fracturante que tem por trás. A liberdade implica escolha real e real custo de oportunidade, assim como - principalmente - benefícios díspares, a menos que a igualdade seja de facto da natureza das opções que se nos apresentam. Mas chamar bois iguais por nomes diferentes...

Pedro Carvalho disse...

1- acho de todo o valor escolher o US Open. Eu no dia das eleições vou estar a ver o primeiro episódio de californication se o conseguir sacar (sai nesse dia).

2-Eu penso que nao percebi bem o teu comentário mas vou tentar responder à pergunta que me fazes. A questão é se há ou não liberdade acrescida em haver esta lei. eu respondo que sim porque um casal homossexual passa a ter a liberdade para viver junto. Já o podia fazer, mas via-se discriminado porque não goza do mesmo estatuto, e estatuto pode não ser a palavra juridicamente correcta, e a escolha só se exerce em liberdade. Ora só com uma lei deste tipo é que se poderia escolher em igualdade de circunstâncias e por isso de forma livre.

Se o PSD é a favor da liberdade de associação familiar, só é contra que coisas "diferentes" sejam tratadas por "igual", então o PSD é contra o casamento homossexual mas a favor da uniformização dos direitos legais nas unioes de facto. A única justificação plausível para votar contra era a lei estar mal feita, mas não foi por isso que o PSD orientou o seu voto no momento. Daí a minha opinião de que MFR há-de convivver mal com a sua própria bancada parlamentar.

Em relação ao resto acho que é só ódio ao Socrates por isso não tenho nada a responder.

(P.S. o meu nome não aparece com a conta do google pk eu tou com graves problemas no acesso à conta, nem consigo postar pelo meu PC nem nada.Foi macumba do Sócrates, do Passos coelho, do Santos Silva e do Pacheco. Acho que a Prisa tb meteu o dedo...)

João Gante disse...

Tudo correcto no que disseste, mas o problema é que a lei não foi publicada como visando os homossexuais. Ela afecta os casais do mesmo sexo porque não refere especificamente de que sexo devem ser os "cônjuges". Ora, na prática, isto equipara a união de facto ao casamento e, portanto, é uma lei do casamento homossexual "perneta". E, pior, é introduzida de forma subreptícia, sem discussão pública nem nada. Sou a favor da equiparação de direitos, mas aprovar estas coisas sem ter a população por achada mostra o quão democráticos são os partidários acérrimos das causas fracturantes (estou a olhar para a Fernanda Câncio). A lei foi tratada como sendo geral quando não o é, é uma fachada para dar mais direitos a casais gay. Devia ter sido referida como tal. Assim, é absurda para os que heteros, que ficam com direitos iguais para obrigações e situações diferentes, e desrespeitadora para com os homossexuais. Virá o dia, espero que em breve, em que nenhuma lei referirá a orientação sexual. Mas, para já, a população vê a homossexualidade como algo diferente. E é como algo diferente que deve ser tratado, no bom sentido, o de o tornar indiferente.

Pedro Carvalho disse...

Eu não sei se a lei estava mal redigida ou não, mas se equiparava homo a hetero, e se os hetero ficavam na mm não vejo problema em aprovar a lei. Mas isso pronto, cada um acha o que entender, desde que de forma coerente. Eu só acho que a MFL não conseguiu ser coerente no debate no que a a essa matéria disse respeito.

João Gante disse...

Ó Pedro, mas a questão é que se escondeu essa questão. Foi um truque para equiparar as uniões de facto aos casamentos e assim permitir aos gays usufruir dos mesmos direitos. Infelizmente, no geral, não faz sentido equiparar duas situações (têm nomes diferentes, afinal) para atingir um objectivo que não se assume. Eu sou a favor de dar o direito de casar aos homossexuais. Mas quero que tal se faça de forma aberta e frontal, com discussão pública e não com alterações obscuras da lei. A questão não é a substância da lei no que concerne aos homossexuais. É como essa atribuição de direitos é feita e a que custo para outros. Equiparar casamentos a uniões de facto é absurdo.

Pedro Carvalho disse...

"Equiparar casamentos a uniões de facto é absurdo." Também acho porque é injusto para quem assume mais responsabilidades (casados) ter tantas regalias como quem não casa.

Mas acho que se deveria criar um regime jurídico para homossexuais, que lhes desse o mm direito dos hetero casados. Eu acho que o casamento não figura per si a união entre homossexuais. Mas era bom que os homossexuais pudessem escolher "casar" em termos jurídicos. Concordo contigo quando dizes que isto n deve ser encapotado, pk na verdade o cidadão deve ter o direito a deslindar o sentido da legislação.

João Gante disse...

We agree, then. Bring forth...they beer!