
E este blog ficará, como uma prenda por abrir, até Janeiro, assim não apareça nada em contrário. Depois bem se vê: há sempre que continuar.
Um abraço fraterno aos leitores
Nunca se é tão feliz nem tão infeliz como se imagina

A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se e come-se se alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vem cansaços e o corpo frequeja
molha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Entretanto o tempo fez cinza da brasa
outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Sérgio Godinho
Os serões habituais
As conversas sempre iguais
Os horóscopos, os signos e ascendentes
Mais a vida da outra sussurrada entre os dentes
Os convites nos olhos embriagados
Os encontros de novo adiados
Nos ouvidos cansados ecoa
A canção de lisboa
Não está só a solidão
Há tristeza e compaixão
Quando sono acalma os corpos agitados
Pela noite atirados contra colções errados
Há o silêncio de quem não ri nem chora
Há divórcio entre o dentro e o fora
E há quem diga que nunca foi boa
A canção de lisboa
Mamã, mamã
Onde estás tu mamã
Nós sem ti não sabemos mamã
Libertar-nos do mal
A urgência de agarrar
Qualquer coisa para mostrar
Que afinal nos também temos mão na vida
Mesmo que seja a custa de a vivermos fingida
O estatuto para impressionar o mundo
Não precisa de ser mais profundo
Que o marasmo que nos atordoa
Ó canção de lisboa
As vielas de néon
As guitarras já sem som
Vão mantendo viva a tradição da fome
Que a memória deturpa e o orgulho consome
Entre o orgasmo e a gruta ainda fria
O abandonado da carne vazia
Cada um no seu canto entoa
A canção de lisboa
Jorge Palma

Ernâni Lopes foi um político de outro tempo. A sua indiscutível capacidade para, friamente, ser um pessimista respeitado, foi sempre notável. Também, ou talvez por isso, ele foi o Ministro das Finanças certo para a o dossier FMI da década de oitenta. Nos últimos tempos, como sempre, usou do seu pragmatismo catastrofista para prever uma situação que, tão só, muito provavelmente irá acontecer. Não perfilhava das suas particulares opções de contenção de despesa, mas aquele era um homem que tinha lá estado, e que talvez por isso, soubesse os verdadeiros custos de uma chegada do FMI a Portugal. No essencial, preconizava o combate directo à corrupção e ao "chico-espertismo", flagelos da nossa era; e era um convicto defensor da moralização da política. Por esta sua postura e determinação, hoje, como em 1984, lamento que se tenha perdido um homem tão raro.
Eles amam-se, casam-se para se amarem melhor, mais comodamente, ele parte para a guerra, morre na guerra, ela chora, de emoção, porque o amou, porque o perdeu, e zás, volta a casar-se, para amar mais uma vez, ainda mais comodamente, eles amam-se, uma pessoa ama as vezes que forem precisas, precisas para ser feliz, ele regressa, o outro regressa, afinal não morreu na guerra, ela vai à estação, ele morre no comboio, de emoção, por pensar que vai reencontrá-la, ela chora, chora mais uma vez, mais uma vez de emoção, porque o perdeu mais uma vez, e zás, volta para casa, ele morreu, o outro morreu, a sogra está a desprendê-lo, ele enforcou-se, de emoção, por pensar que pode perdê-la, ela chora, chora ainda mais, de emoção, porque o amou, porque o perdeu, ora aí têm o que é uma história... 

Não há equívocos. Esta entrevista é de um homem do futebol que é maior.


"Afinal a campa é a expressão derradeira do ser humano."
"Continuavam a fazer negócios, preparavam viagens e tinham opiniões. Como poderiam ter pensado na peste, que suprime o futuro, as viagens e as discussões? Julgam-se livres e nunca alguém será livre enquanto existirem os flagelos."


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