Aquele túnel da Luz precisa de capacetes azuis. Antes, o porto dominava os árbitros, agora o Rui Costa faz de dobrador de colheres ao intervalo, desertinho para suspender mais dois ou três influentes das equipas adversárias. É só jogo psicológico e atributos profissionais às mães dos atletas. É para proteger os menino's, diria o outro. É que como é sabido, este caso está longe de ser único esta época. Aquela chiclette do Jesus nunca me enganou. Aquilo no túnel é que deve ser, carrega Benfica!
Nota: A etiquetar seria: "A mim ninguém me vai..." isso isso...
Deixado ao horizonte por
Pedro Carvalho
às
23:53 |
Espressões como o "market bear", "animal spirits" ou a mítica frase "in the long term we are all dead" são deixadas aqui, num rap economico-malaico. Muito bom...
As negociações do orçamento parecem agora concluídas. Depois há sempre quem opine com toda a legitimidade que têm, e com a sobranceria que não deveriam ter. Quando se lê isto, isto, e consequentemente isto, percebemos que no entender de alguns, o intelectualismo impele o extremar de posições, e que a verdade de uma oposição é opor-se. Era também sobre isto que falava já no inicio do mês. Acordo é possível, mas a querela acriançada iria sempre, impedir uma parceria de fundo, com valor estratégico, e infelizmente, tal é a situação draconiana em que nos encontramos, necessária.
Questiono-me humildemente, que PSD querem “os” PSD’s deste país. Porque criticam, ora a opacidade do processo, como faz Constança Cunha e Sá, aludindo a uma assaz inexistência de negociação; ora se debatem num “claquismo” surdo onde a nação precisa do PSD, como se lê nas entrelinhas de João Gonçalves. A nação precisa de partidos! Partidos diferentes, com responsabilidade e estratégia, comprometidos servilmente com o crescimento económico, social e cultural do país, enfim, instrumentos de servir, fitando apenas o lugar melhor que isto devia ser.
Quando li os textos supra citados do Portugal dos Pequeninos, parecia estar a ler um barão, displicente para com a tarefa do CDS, numa birra autista onde o PSD é necessário e o resto é paisagem, pior, o resto tira força ao PSD, e por isso é mau. Ora, a mim o que me parece mau foi o ciúme. Assumindo que o CDS não marcou agenda nenhuma, e é uma asserção que em tudo me parece abstracta, o que é facto é que o PSD não o fez. E o que fez o PSD? O mesmo que o CDS, ao fim de contas, abstêm-se fugindo ao compromisso. E na minha opinião, Ferreira Leite fez bem, talvez Sócrates nem o fizesse. Ferreira Leite teve a noção da importância da sua abstenção, e cedeu, porque não é “claquista”, e negociou, dentro do possível, que é pouco, porque Ferreira Leite sempre foi inábil no bastidor, e dessa Maizena, Paulo Portas já vai no oitavo ou nono embornal… Aqueles que sempre defenderam Manuela Ferreira Leite talvez pequem por isto mesmo, concorrem com o Ingénuo de Voltaire, e ainda vestem retóricas com manifesto complexo de inferioridade. Querem um país melhor? Também eu, também nós todos, uns mais do que outros. Mas neste, assim, Sócrates ganha sempre, e no máximo, o CDS faz de muleta.
Também não percebi o remoque de João Gonçalves contra a posição do CDS face às finanças regionais. Fazem-no porque tiveram lá bons resultados. Isso para mim, não só é argumento, como revela respeito pelos votos que lhes foram confiados. Nas próximas legislativas, Paulo Portas há-de ir às feirinhas todas, e publicitar todos os decretos-lei que levou ao parlamento em favor daquela região. Se toda a demagogia fosse essa, estávamos melhor. Quem me dera que os deputados de Leiria se portassem assim também! O que falta a muitos é esse interesse pela representação regional, e no pior dos casos, perguntem ao Campelo.
Na minha infância, pensou o psiquiatra, as pessoas escalavam-se em três categorias não miscíveis rigorosamente demarcadas: a das criadas, dos jardineiros e dos choferes, que almoçavam na cozinha e se levantavam à sua passagem, a das costureiras e das senhoras de tomar conta, com direito a mesa à parte e à consideração de um guardanapo de papel, e a da Família, que ocupava a sala de jantar e velava cristãmente pelos seus mujiques («pessoas», chamava-lhes a avó) oferecendo-lhes roupa usada, fardas, e um interesse distraído pela saúde dos filhos. Havia ainda uma quarta espécie, a das «criaturas», que englobavam cabeleireiras, manicuras, dactilógrafas e enteadas de sargentos, as quais rondavam os homens da tribo tecendo à sua volta uma pecaminosa teia de soslaios magnetizadores. As «criaturas» não se «casavam»: «registavam-se», não iam à missa, não se afligiam com o ingente problema da conversão da Rússia: consagravam as suas exigências demoníacas a prazeres que eu entendia mal em terceiros andares de prédios sem elevador de onde os meus tios regressavam à socapa risonhos de juventude recuperada, enquanto as fêmeas do clã, na igreja, se dirigiam para a comunhão de olhos fechados e língua de fora, camaleões prontos a devorarem os mosquitos das hóstias numa gula mística.
"... a solidão absoluta, o que em nós próprios não conseguimos suportar, os mais escondidos e vergonhosos dos nossos sentimentos, o que nos outros chamamos de loucura que é afinal a nossa e da qual nos protegemos a etiqueta-la, a comprimi-la de grades, a alimenta-la de pastilhas e de gotas para que continue existindo(...) e encaminhá-la na direcção de uma «normalidade»"
"... quando nós nascemos já o Salazar transformara o país num seminário domesticado."
"Dá-me ideia às vezes que Portugal todo é um pouco isso, o mau gosto da saudades em diminutivo e latidos enterrados debaixo de lápides pífias."
"O gosto do silêncio e o fitarmo-nos como estranhos separados por distância impossível de abolir, que pensarás de facto de mim, da minha vontade informulada de te reentrar no útero para um demorado sono mineral sem sonhos..."
"O seu egoísmo media a pulsação do mundo consoante a atenção que recebia: só tarde demais acordara para os outros, quando a maior parte lhe havia voltado as costas enfastiados pelas estupidez da sua arrogância e o sarcasmo desdenhoso em que cristalizava a timidez e o medo."
"O psiquiatra recostou-se para trás na cadeira e procurou no bolso o terceiro cigarro dessa sessão: (...) se o faço porque diabo o faço? (...) Ou simplesmente o faço por de mais nada ser capaz e constituir esse meu peculiar modo de me sentir no mundo, como um alcoólico tem de beber para se certificar que existe ou um marialva tem de fornicar para se assegurar que é homem?"
"Quem sou eu? Interrogo-me e a respostas consiste, obcecadamente, invariavelmente, assim: Uma Merda."
Frases de "Memória de Elefante de António Lobo Antunes
Mais um daqueles livros com tendência para se chamar autobiografia encapuçada. A personagem principal é um médico psiquiatra, tal como o próprio autor, que trabalha em Lisboa depois de vir de Angola. Pois... tal como o próprio... Depois a personagem acaba sempre por não ter nome, o que acaba por salientar o carácter egotista do livro. Contudo, este é uma crítica dura, com o vocabulário desconcertante tão próprio do escritor, que as nossas memórias fazem a nós próprios. Aliás, é nisso que reside todo o cerne do livro. Um homem que se separou da mulher, que a ama, mas que se afastou sem conseguir voltar, que a ama demais para enfrentar as dificuldades do amor, que a ama demais para voltar a estragar tudo outra vez. A sensação de culpa, mas sobretudo de impotência, como que um esticar de braço onde nunca se chega (bem patente num episódio onde vai espreitar as filhas à saída da escola) dominam a narrativa que nos é testemunhada através dos pensamentos da personagem, sempre vivos, nítidos e de uma confusão sempre tão bem exprimida pela vaniloquência benigna de António Lobo Antunes. Lançado no mesmo ano que Os Cus de Judas, não prende tanto, e a meu ver, a história é mais redutora em torno único e exclusivo do médico anónimo. Na minha opinião, não é tão bom quanto o seu predecessor. Na verdade, senti por vezes que se tratava quase de um continuar do livro anterior.
Existe uma coisa chamada BEDEX, onomástico de Brigada de Expulsões de Delinquentes Estrangeiros. É em Espanha, e por muito que se assemelhe, pelo menos na minha imaginação, à brigada das Camisas Negras de Mussolini, trata-se de um aparelho intermédio entre a leviandade permissiva de um BE e a restritiva lei de imigração dos EUA. A globalização criou, entre outras coisas, esta confrontação premente entre aquilo que acreditávamos ser o combate ao racismo e a defesa da nossa integridade nacional.
No fundo, criar uma lei sem falácias da generalização precipitada, mas consciente de que o descarregar esbaforido de imigrantes, numa situação precária, sitiados entre as máfias e a pobreza, conduz com uma frequência, que não é incipiente, à criminalidade. Eis o equilíbrio difícil de alcançar, e que enquanto não tiver uma acção concertada, mas sobretudo justa, por parte dos países desenvolvidos, causará imensos problemas.
"Verdade, também isso se perde porque a memória, aprendi por mim, é indispensável para que o tempo não só possa ser medido como sentido."
"Perdeu os estímulos de aproximação porque, sem a consciência da identidade que nos posiciona e nos define num framework de experiências e valores, ninguém pode ser sensível à valia humana do semelhante."
"E com esta deixara-o de boca às moscas porque machista devia ser uma palavra que não lhe constava lá muito bem."
"Num golpe repentino tinha perdido a inteireza da fala, no mesmo golpe tinha perdido os valores da grafia e ficara analfabeto de mim e da vida."
Frases retiradas do relato "De profundis, valsa lenta" de José Cardoso Pires
Este pequeno livro, que se lê de um só trago, conta-nos a história do próprio, a contas com um coágulo sanguíneo que lhe retirou a memória. Tratam-se por isso das memórias, se me é permitido o jogo de palavras, sombrias, daquilo a que o próprio apoda de morte branca. Um relato de agradecimento do escritor para com os médicos do serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria. Um retrato simples, sem eloquentes decoros estilísticos, sobre a situação nublosa em que vive um amnésico e o seu despertar, saboroso como uma nova vida depois do nulo, como o próprio descreve. Apontamento para a forma como o escritor se põe perante si próprio, chamando-lhe o Outro e tratando-se por Ele, como forma de gramaticar a sua ausência, até de si próprio.
Voga nas primeiras páginas da antologia poética de Manuel Alegre, da qual falei aqui, uma brilhante prosa (cúmulo antagónico) sobre a sua mãe, a liberdade e o cárcere. Não serve para aqui, mas tem lugar garantido neste humilde primeiro tomo.
Li este romance jovial e fresco faz tempo. Lembrei-me agora de o recomendar porque nas gravações do Esplanada, acabou por ir à baila. Aquilo que mais me impressionou é que não escolhendo um tema de excepção: pega na questão do aborto, e não num grande amor entre dois irmãos, um homicídio, a existência, o discurso rácico, a religião, etc etc etc... consegue ser um dos romances mais bem escritos que li até hoje. Preenche em absoluto a minha ideia de Romance: história bem arquitectada que prende; linguagem ornada mas objectiva (que é a suprema mestria literária); e um pensamento, o livro tem de pensar, e os livros pensam quando nos fazem pensar a nós. É uma obra de excelência, dum autor que nunca me desiludiu, e não há como fazer resumo, é mesmo ler. Se não confiam em mim, e fazem bem, saibam que ganhou o Prémio Literário Mondello em 1978.
Fruto da gratuitidade do jornal semanário Sol na minha faculdade (muito obrigado), pude ler um belo artigo que assim vos passo. Trata-se de uma análise inteligente e historicamente fundada, sobre o futuro do PSD, e a sua matriz esparsa.
Nota: Escrito no dia da aprovação do Casamento Homossexual na AR. Por motivos de logística, só publicado hoje.
Deixo como notas breves, três erros clamorosos acerca da condução do processo do Casamento Homossexual deliberado pelo parlamento. Note-se que isto, em nada contradiz ou reforça a posição perante o assunto, mas sim o método como se trata o assunto. Trata-se portanto, de uma análise metodológica.
1 erro
O BE vai votar a favor de um articulado na sua generalidade, articulado esse que diz ser inconstitucional. Para além disso, discorda do mesmo, de modo que vai voltar a propor a adopção no plano da especialidade. Assim de repente vejo que o BE, não só não tem pejo em legislar à revelia da Constituição, como também, dá muito pouca importância aos fins do seu voto, como se ele não os vinculasse a uma posição. É de tal forma grave que, mesmo num diploma pelo qual se bateram favoravelmente através do voto, têm ainda o arrojo de o discutirem enquanto oposição ao mesmo.
2 erro
O PS propõem o casamento homossexualainda que limitado no que à adopção e à filiação diz respeito. Trata-se de um erro lógico, onde a inconsistência da conclusão não segue as premissas. Se o casamento homossexual deve ser legal porque se tratam de pessoas iguais aos heterossexuais, então porquê limitar esses direitos? Para quem sustenta a tese de que se deve tratar de um casamento e não de um regime legal específico, próprio para as situações específicas, então porque trata-lo com exclusões de excepção? Não será isto uma admissão de que não se trata da mesma coisa, à qual, por motriz político-demagogica, se pretende chamar exactamente o mesmo. Para além desta grave inconsistência lógica, onde a discriminação se mantêm, e são os próprios alvissareiros da igualdade a rebaixa-la novamente, acresce o lanho de inconstitucionalidade que parece, dizem as sumidades da matéria, sair desta lei tergiversa. Pessoalmente, fico feliz por saber que a nossa Constituição ainda desenvolve na base de que duas coisas que se igualam no seu exacto enquadramento jurídico, tem de seguir portanto, as mesmas normas. Neste caso, entenda-se, dois tipos de casamentos, um com filiação e adopção, e outro sem, é ridículo. Trata-se de liberalizar, mas só um bocadinho. Há progressos retrocessivos... Um absurdo lógico, e jurídico ao que consta, que descredibiliza, para quem ainda precisava de provas, as luminárias legislativas que se sentam e se levantam a mando de uma disciplina partidária circense.
3 erro
O PS não dá liberdade de voto nesta matéria. Discordo porque desde sempre entendi tratar-se de uma questão do foro moral, de entendimento social, mais que político, económico ou administrativo. Tanto é assim que sou defensor do referendo sobre a matéria. Contudo, enquadrado numa lógica de filiação partidária e programática, aceito que se possa instaurar a disciplina de voto. É Estalinista q.b., mas tem, defendendo algumas asserções, coerência. Ora, o que não tem coerência é o regime de excepção. Ponto um: os deputados independentes e activistas gay concordaram com as mesmas linhas programáticas do que os outros, bem como com o seu nome constar das linhas de um partido que se roga de ter um determinado projecto lei num determinado sentido.Ponto dois: a atribuição parece arbitrária. Alguns dos deputados do PS, com um argumentário cada vez mais sinistro no palavroso fleumático da pluralidade partidária, dizem que o partido é muito grande. Parece um argumento construtivo para explicar o que estes deputados podem fazer e dizer e os outros não? Não. Francisco Assis, que teve de “entender” o “grande consenso da bancada” talvez imposto por Sócrates, dá liberdade a um número suficiente para não estragar o arranjo aritmético, mascarando, isso sim, o arranjo pseudoliberal. Devolvam-nos o PS.
By the way: Neste devir de igualdade, não deveriam aqueles que defendem o casamento ser também a favor da adopção? É que se a premissa para o Casamento Gay e Lésbico é o da igualdade na constituição familiar segundo um contracto jurídico, temos de assumir que é porque Gays, Lésbicas e Heterossexuais são ligações igualmente habilitadas para esse contracto. Se estamos perante iguais, pessoas e mais concretamente relações, (até porque ninguém discute que os Gays ou Lésbicas sejam diferentes enquanto pessoas), não estaremos a fundar a descriminação, um tanto arbitrária, ao não dar a todas as relações entre pessoas que possam casar, os mesmos direitos?
Nas palavras do Presidente da República, o grande desafio político de 2010 é a convergência no Orçamento de Estado. Ainda que eu acredite que venhamos a ter um acordo de compromisso, não posso ser confiante ao ponto de considerar possível um alinhamento de intenções. Tristemente, trata-se daquilo que era, na realidade, essencial para um desenvolvimento de um caminho que se quer estratégico ao invés do flexuoso destino que as nossas contas públicas, e o seu estado cavernoso, nos impelem.
O PS, que tem mantido uma propositada dialéctica torpe, já veio incitar ao esmagamento das intenções minoritárias, que somadas, são maioritárias. A única asserção válida deste sofisma é que uma coligação da oposição é, pela sua morfologia ideológica, impossível excepto se conter o único propósito de bloqueio institucional.
O PSD tem um dilema político que pelo andar da charrette, terá de por cavalos e barões em sentido. A questão é, a liderança e o país ou o país e a liderança. O PSD, à muito longe das lides mais desejadas, vive este dilema na fissura da terra que abre a seus pés, e aos do país. Tudo isto, e um destrutivo sistema de directas (assunto tão interessante que talvez lá irei noutro momento).
O PCP e o BE, no seu autismo atento de quem lhe convém ser assim, são cartas fora do baralho. Pelo menos para o que quer que seja, nesta circunstancia difícil, sério.
O CDS foi o partido que se adiantou às palavras do PR, pedindo já há duas semanas que se encetassem negociações com vista à aprovação em Março do OE. Parecesse-me o caminho correcto, ainda que incipiente caso seja um compromisso unilateral. É que como já defendi anteriormente, e estando o PS tão vincadamente na deriva da esquerda moderna das revoluções murchas, uma relação PS-CDS para além de imprecisa, não era suficiente; não teria o peso necessário para caminhar junta toda uma legislatura, e em última instância, era um risco eleitoral para estes dois partidos.
Assim, para que cada Português não nasça a dever 17000€, o estado terá de levar as contas públicas não para um nível saudável, mas para um nível de sanidade deficitária de 3%. Isto implica que o Estado gaste com cada um de nós, menos 1000€ por ano. Um esforço tão brutal só é possível com o milagre mais sinistro, um compromisso governativo abrangente e sério. Um milagre cidadãos despesistas! Um milagre em terras de Portugal, porque não? Afinal de contas, são sempre rosas Senhor.