Os Farsantes

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O cerne da farsa é que desde os retratos clássicos, Portugal sempre foi um país de intelectualidade galã e vaga. Uma intelectualidade fictícia, por vezes teatral, maquilhada e grosseiramente falaciosa onde os farsantes vendem a sua peça.

Sócrates vende o TGV e todas as demais políticas duvidosas ad verecundiam, não persegue o estereótipo de intelectual mas antes de estadista e para isso ensaia poses, ora L'État c'est moi, ora No llores por mi Argentina, e termina algures num fundo estranhamente azul, a discursar de improviso sobre um teleponto transparente. Batem-lhe palmas “pensadores hodiernos” que há mínima crítica desatam no primitivo ad hominem.

Eram sete as falácias aprendidas no meu plano curricular de Filosofia 11ºano. Catorze seriam precisas para perceber a tenebrosa construção intelectualizada estilo “três de areia para um de cimento” que muitos ditos livres pensantes da nossa praça fazem. Na Direita dos bons costumes e da filigrana, crescida no seio de bibliotecas mil vezes mais Joaninas que a própria, a intelectualidade e sobretudo o conhecimento incontestável sucumbem a paixões. É pena. Amam e odeiam sem pejo. Não que não haja espaço a pudor nas nossas convicções, o problema é que vendem uma imagem de rigor intelectual onde a isenção é chave. Pacheco Pereira oferece naturezas mortas no seu blog a Manuela Ferreira Leite e revira os olhos a Menezes ou a Passos Coelho. Já sentado na “Quadratura do Círculo”, os seus olhos são a Real Mesa Censória dos novos tempos, fitando António Costa sempre que ele bem ou mal intervém. Indo ao bolso, reluz um cartão de militância, ou no caso de um famoso Blogger, ganha relevo o espaço onde antes constou o mesmo cartão, entregue a alguns anos e, auguro eu, prestes a obter segunda via.

Se no caso da Esquerda há um claro défice de seres pensantes, na Direita há um observável défice de cristalização de posições. Pessoas inteligentes e sabedoras que, tolhidas pela paixão, enviesam os seus raciocínios.

1 horizontes dispersos:

João Gante disse...

Grande texto. Mas meio certo. E, portanto, meio errado.

Militância é diferente de subserviência. Mas também tende a ser igual a fazer concessões, dou-te essa. Mas é mesmo assim que funciona. E ainda bem, senão não havia nada que discutir.