Cataclismo, cataclysm, cataclysme, unglück, cataclisma

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Findas as Europeias e com poucos deputados por apurar, a Direita sovou a Esquerda Europeia. Uma derrota em toda a linha, onde só Dinamarca, Chipre e Grécia votaram PSE. Tudo o resto é uma mancha PPE (a nossa direita à portuguesa) e a direita liberal da ADLE que consegue vencer na Holanda, Estónia e Finlândia. Mais, só foram penalizados os partidos de governo à esquerda. Em França Sarkozy reforça, em Itália a direita vence tranquila, na Alemanha, esse monstro que sozinho elege 99 deputados, o PPE quase que duplica o PSE. Depois havemos de ter os miseráveis resultados da esquerda em Inglaterra (aposto que os trabalhistas não chegarão a ser sequer segunda força política). Para acabar o caso Polaco, profundamente neoliberal desde a queda do regime comunista, e que elege 24 deputados pelo PPE, 16 por um partido nacionalista da Europa, o UEN “Grupo parlamentar para a União da Europa das Nações” (o nome diz tudo) e apenas 6 para o PSE. O caso polaco é a maior barreira política que a Europa terá para voltar a ser de esquerda, uma vez que aí a direita ganha sempre uma considerável vantagem (neste caso 34 deputados).

Confesso, ainda estar a digerir tão incompreensíveis resultados. A única explicação que até ao momento encontro é a ignorância europeia dos povos que a compõem e como acredito que essa não seja a causa, por agora nada mais.

Ver mais aqui.

7 horizontes dispersos:

Miguel disse...

Impressiona-me o caso italiano, alemão e francês que conseguiram consolidar a sua força. Em Inglaterra o partido de Brown ficou em 3º. Tocam já as sirenes na Downing Street.
Se o povo acha que é necessário uma viragem para os partidos do PPE, então há que aceitar. Só não compreendo. Vamos ver no que isto dá.

Pedro Carvalho disse...

Meu caro, o caso Alemão não é de todo impressionante. Só mesmo pela amplitude da derrota do PSE. É que a Alemanha virou muito à direita nos últimos anos, e o facto da falência da Opel ter sido evitada, deu um manancial de confiança à Merkl.

No que isto dá é em mais do mesmo para a Europa. A maioria anterior mantém-se e sai reforçada, como que tudo estivesse bem na Europa...

Julgo eu, que de Europa, pareço não entender nada.

João Gante disse...

Mas qual é, afinal, essa superioridade moral de que a esquerda moderada dispõe que a direita (moderada, também, claro) não possui? Juro que não percebo.

Partilho da admiração no caso do Berlusconi mas já quanto ao Sarkozy, por exemplo, e apesar de a criatura me fazer alguma confusão, acho a sua vitória perfeitamente natural. Ainda mais quanto a Merkl.

O que eu não quero acreditar é que vocês estão a enveredar pela teoria de que, por exemplo, um BE ou uma CDU são mais democráticos que um CDS. Menos xenófobos, talvez. Mas de resto...

Não enveredem por cartilhas, por favor.

PS: Se vão falar da superior riqueza do PS enquanto partido "europeu", deixem-me lembrar-vos que é porque eles "estavam lá na altura". Acham mesmo que o PSD não teria aderido à UE? Fazem-me parecer JSD...livra!

Pedro Carvalho disse...

Não se trata de superioridade moral. A verdade é que a Europa padece de dois problemas graves. A sua não constituição enquanto bloco político e a sua debilidade económica enquanto bloco fragmentado em unidades economicamente carenciadas. Se em relação ao primeiro problema a culpa é de todos os partidos europeus (que à muito não têm um Monet), os problemas económicos devem-se a um modelo económico de desregulação exacerbada de patrocínio neoliberal. Essa é a mensagem principal do meu post sobre a GM se o leres.

Portanto não há aqui uma superioridade de qualquer ordem. O que se passa é que a direita ideologicamente é menos europeia que a esquerda. O comunismo teve o Komintern e numa das Internacionais Socialistas nasce a Social-Democracia. Portanto a génese da esquerda é internacional e de comunhão sem fronteiras (excepto nos regimes deturpadamente comunistas). Já a direita tem a sua única face internacional na democracia-cristã por motivos religiosos e na ala liberal por motivos económicos, em tudo estranhos à sua génese partidária. Uma forma de exemplificar esta relação é que enquanto a esquerda moderada é muito próxima, quer dos seus fundadores à sua finalidade, a direita é dispar. Cada direita se adequa mais ao país. A nossa direita não é monárquica mas seria impensável aos Conservadores Ingleses acabar com a Câmara dos Lordes.A direita espanhola é por e simplesmente económica, a italiana é cultural, tendo até princípios rácicos embutidos. A direita moderada austríaca é ideologicamente semelhante à extrema direita portuguesa mas sem o factor religioso. Enfim, a direita é uma ideologia de nação, pouco compatível com um projecto europeu real nos termos hoje discutidos.

Sim de facto podemos entender a esquerda como algo mais "de cartilha" do que a direita. Contudo não há maior e mais eloquente cartilha que os Concílios do Vaticano, percursores da Doutrina Social da Igreja, documentos indispensáveis à fundação da Democracia-Cristã.

Concluindo, não é mau a Europa virar à Direita. É mau a UE virar à Direita. Por tudo aquilo que acabei de te explicar. E também não confundas o "estudar" de uma ou mais cartilhas com o seu enunciar. Eu sou doutrinário, nunca o escondi. Eu gosto de ler cartilhas políticas para saber do que falo e do que penso. Sempre por mim, claro. Se aqui só se escrevesse o que já vem escrito noutro sítio este blog não valia a pena.

P.S. Não falei do PS porque a tua errónea interpretação do meu "bate papo" com o Miguel não tem nada a ver com partidos, mas com ideologia. Não tens porquê de nos subestimar a esse ponto.

Ainda que díspar de ti, eu também sou um idealista... ;)

Rodrigo Escapa disse...

Gante, desculpa mas não pude deixar de comentar...

"O que eu não quero acreditar é que vocês estão a enveredar pela teoria de que, por exemplo, um BE ou uma CDU são mais democráticos que um CDS. Menos xenófobos, talvez. Mas de resto..."

Então mas achas que é pouco?? E ainda por cima num momento em que os nacionalistas e fundamentalistas aproveitam cada tempo de antena que têm (e não me refiro ao tempo de antena, propriamente dito, obviamente) para atirarem areia para os olhos das pessoas dizendo que a culpa da actual conjuntura em que vivemos é da esquerda?

Abraço!

João Gante disse...

Ora vamos lá tirar uns coelhos mortos da estrada para poder seguir caminho:

- Eu não vos subestimo. Nunca. Se subestimasse não tinha escrito o comentário meio-surpreso que fiz.

- Com cartilha, eu referia-me à onda de "pânico" que grassa por Jugulares e afins por causa da subida da direita, e não à doutrina das várias ideologias políticas.

Vamos ao resto, então:

Eu sou - e hoje isso parece-me mais pertinente que nunca - profundamente anti-federalista. Sou, isso sim, um defensor da união na diversidade - e é isso que me parece fiel ao espírito europeu, não esta farsa grotesca vendida como "evolução natural" do projecto europeu - que me parece o compromisso ideal para a UE e que deve ser aprimorado mas nunca avançado. Se hoje em dia os países mais ricos já se queixam dos mais atrasados, imagina se estreitares a interdependência entre os 27 (e os que ainda possam juntar-se, "não permita deus").

Eu não alinho em esquerdas e direitas. Reconheço-lhes a óbvia existência, mas acho que, precisamente, a abordagem que atribuis à direita é a melhor: a de uma governação "personalizada" e baseada no indivíduo e no conjunto de indivíduos de background comum que compõe cada país. O federalismo é a morte dessa individualidade nacional. E da nossa, a longo prazo, como cidadãos de um país. Isto vindo de alguém que não é nacionalista.

PS: Sei perfeitamente que és idealista. Eu é que já não sei se sou. Tanto como gostaria, pelo menos.

PS2: Qualquer tentativa de fazer perdurar o neoliberalismo tranvestido de supremacia do indivíduo (na realidade, o mercado) sobre o estado (na realidade, o bem maior da sociedade) que nos colocou nesta crise merece-me a maior das escarretas na cara. Escarreta ideológica, entenda-se.

João Gante disse...

Escapa, desculpa, quando comentei pela segunda vez ainda o teu comentário não estava - ou eu não reparei que ele surgiu.

É verdade o que dizes, e a xenofobia não é exactamente descartável. O discurso de "vitória" de Portas este Domingo, em particular, foi do mais próximo de um Berlusconismo lusitano que já presenciei, exluindo os meninos do PNR.

Quanto ao aproveitar cada nesga para responsabilizar a esquerda, isso e o seu vice-versa são simultaneamente verdadeiros. Não te esqueças que, para além da responsabilidade da crise ser atribuída a uma visão da sociedade (muito) mais próxima da da direita - embora os políticos não tenham sido tão crucificados como os agentes económicos - a esquerda é também sempre rápida e violenta a reagir a certas posições sobre a imigração - às vezes bem, outras vezes com a habitual histeria fracturante.