"... em suma, era um reformado a quem, depois de toda a vida desvairada e aos solavancos, haviam restado apenas uns hábitos banais."

"Já começava a ser convidado para cargos honoríficos (...) Já começara, como é hábito de todos os que atingem auela idade, a reprovar sem reserva a juventude pela sua imoralidade (...) já chegara àquela idade em que tudo o que respirava entusiasmo se encolhe no homem (...) O ouro era a sua paixão, o seu ideal, a sua preocupação, o seu prazer, o seu objectivo."

"Em todo o lado fora captada um fluido arredondamento das linhas que existe na natureza e que é visível apenas aos olhos do artista criador, enquanto que no copista resulta em ângulos."

"...é preciso que se diga que no coração russo habita sempre o maravilhoso sentimento de querer defender o oprimido."

Citações de O Retrato de Nikolai Gógol

Gógol foi um escritor ucrâniano que viveu e morreu na Rússia, fundando uma das mais belas degenerações do Romance Realista, o Romance Realista Russo. Apesar de realista, a sua vida pessoal, marcada pela temência a Deus leva-o a enveredar por um mundo místico durante a sua obra. Vítima da censura, foi tão admirado que a pressão dos seus admiradores permitiu sempre a publicação dos seus livros. Com uma escrita bem mais aprazível que a de qualquer outro escritor eslavo que li, e como tal "mais fácil" de ler, é também um belo estílista literário. Disso faz prova esta obra que hoje vos trago "O Retrato". Com duas histórias sobre o mesmo retrato, e contada de traz para a frente (a segunda história conta a origem do retrato e a primeira o seu fim), esta obra é antes de um Romance Realista uma obra filosófica. Paralelamente à história, Gógol norteia uma estrutura filosófica que nos expõem perante o problema da estética na arte, da sua importância, e sobretudo da forma de alcançar o paradigma do Belo na arte. Para Gógol, também na arte o Belo é uma exposição de Verdade, partindo disso para criticar toda a elevação social fútil que é ameaçadora para a própria arte. No fundo, um belíssimo romance com misticismo, do qual poderia citar páginas inteiras e não frases como fiz, e onde o pendor filosófico torna a obra essencial para os apreciadores. Apaixonante.