Por quem os sinos dobram

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“Má coisa, essa tristeza. É a tristeza que aparece quando os homens estão prestes a desertar ou a trair. É a tristeza do começo do fim.”

“A gente tem de falar com alguém. Antes havia a religião e outras porcarias. Agora devia haver uma pessoa em quem pudéssemos confiar e com quem falar francamente; porque, por maior que seja a nossa coragem, a solidão dói.”

“Chorava como aquele barulho breve e surdo, como os homens choram, e dir-se-ia que há neles um animal que os sacode.”

“… o povo daquela vila era cruel, mas tinha um sentido inato de justiça e um desejo fundo de fazer o que é direito.”

“Quantas vezes tinha visto os olhos marejarem-se e a voz tornar-se rouca quando pronunciavam as palavras: meu pai, ou meu irmão, ou minha mãe ou minha irmã? Não podia recordar-se das vezes em que tinha ouvido mencionar esses mortos.”

“(…) toda a tua vida que tu tens, que nunca terás, resume-se em hoje, esta noite, amanhã, hoje, esta noite, amanhã e assim sucessivamente.”

“Nos que gostam de matar há sempre qualquer coisa de podre.”

“Ninguém pode provar a nacionalidade e a política de um corpo morto.”

“Corrompemo-nos facilmente. Mas será corrupção ou apenas perda da ingenuidade inicial?”

“Não existe língua mais imunda que a espanhola; tem palavras correspondentes a todas as obscenidades do inglês e ainda uma imensidão de expressões intraduzíveis, só empregues em países onde a blasfémia anda de mãos dadas com a austeridade da religião.”

“Os nossos desejos são para ambos. Só tenho os teus desejos.”

“(…) como pode o mundo tornar-se melhor se pessoas como nós não tiverem filhos para combater os fascistas?”

“É mais fácil a gente sujeitar-se a um regime do que combatê-lo.”

“Também estava empolgado pelo desespero resultante da amargura que os soldados transformam em ódio para poderem continuar soldados.”

Passagens de "Por quem os sinos dobram" de Ernest Hemingway

Eis um clássico que muito me espanta fazer parte do plano nacional de leitura (10º-12º anos), ainda que na secção de leitores autónomos (é assim que aqueles que planificam a cultura designam os literatos). Apanhei-o há dias na bertrand, numa edição que não esta, com uma excelente capa e com dois ou três erros de impressão, de pouca gravidade, qualquer coisa como um "o" ao invés de um "u" e coisas semelhantes. Em relação à história ela é sabida, contudo nunca o tinha lido, e espantou-me em certos momentos. As primeiras duzentas páginas foram, para mim, um espanto de tédio. Primeiro porque ninguém espera que num romance de guerra se passem trezentas páginas sem tiros, e depois porque todo o livro (passa as 500 páginas na mkinha edição), refere-se a três dias de tempo real, ainda que apimentadas por analepses. A história em si é um drama e uma reflexão prática, porque o livro raramente entra no plano abstrato, sobre a derrota, o dever e a missão; áreas onde a lealdade e a coragem (ainda que seja a coragem de conscientemente ir morrer) são equacionadas a cada linha. Um bom romance pelo seu fim e por algumas passagens mais reflexivas. Não me deslumbrou.

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