O Regresso

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"Mas ele tinha pouca vontade de ouvir a sua própria voz - de ouvir qualquer som que fosse -, devido a uma crença vaga, que se moldava lentamente a si própria dentro dele, de que a solidão e o silêncio eram as melhores felicidades da humanidade."

"E nada se adapta mais à mentira do que a morte."

"(...) não era capaz de distinguir com clareza aquilo que era daquilo que devia ser; a verdade imperdoável das válidas aparências. E soube instintivamente que a verdade não lhe serviria."

"Foi surpreendido pela quantidade de pormenores que se intrometeram na sua mem´roia, involuntariamente. Não conseguia deixar de recordar os seus passos, o ruge-ruge do seu vestido, a forma como sustinha a cabeça, a maneira decisiva como dizia "Alvan", o tremor das suas narinas quando se aborrecia. Tudo aquilo que lhe tinha pertencido, tanto, que de forma tão íntima e especial tinha sido seu."

"Teve um vislumbre da força irresistível" das suas convicções... das convicções dela. Parecia que jamais poderia cometer um erro. Era moralmente impossível errar. Não se exaltou com esta certeza; estava ligeiramente preocupado relativamente ao seu custo..."

"E então pensou nela como costumamos pensar nos mortos numa vastidão meiga de remorso, num desejo intenso pelo regresso da perfeição idealizada."


Frases da obra O Regresso de Joseph Conrad

Este pequeno romance de traços novelescos traz até nós um acontecimento importante na vida de Alvan Hervey. Chegado a casa, descobre que a sua mulher o deixou, mas poucas horas depois, ela volta, incapaz de consumar a traição e macerada pelo seu sentimento de culpa. Todo o diálogo, por vezes monólogo de Alvan, centram-se na temática da moral. Um pensamento rápido mas profundo sobre as capacidades castrantes da moral sobre os sentimentos do Homem, e do peso da sociedade, das responsabilidades sociais, e do papel social que cada um de nós se vê impelido a participar. A chave é a impossibilidade de perdoar, ainda que isso cause um sofrimento maior do que qualquer outro, pura e simplesmente por altivez moral. Sempre em torno disto, através de uma lição de moral pedante com que increpa a sua mulher, a novela desenrola-se e acaba por deixar outros nobres pensamentos como o da diferença entre a felicidade existente e a sonhada, ou a sensação de felicidade mais acentuada aquando da perda. Um bom livro, curto em páginas, mas extenso em pensamento; que serve de montra para a grande obra do romancista Joseph Conrad.

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