"Rosnou, insofrido. Outra vez a mesma conversa de há bocado! Se guardasse o paleio e lhe desse o esqueleto do seu compadre calçudo, melhor fazia!"
"E ficava-se também, quieto e deslumbrado, a olhar uma gota de orvalho pousada no cetim de uma pétala, ou a escutar, de ouvido fito, um rouxinol que cantava na Silveirinha..."
"Frango! Palermas! O pior se daí a nada, logo que a patroa abriu a porta do quinteiro, não galou ali à sua frente a Calçuda, a madre abadessa de todo aquele gado!"
"Quinze mulheres no harém... Que diabo! Mas um homem não se manda fazer. Natureza desgraçada, a sua! Não se fartava!"
"Um segundo a natureza estava suspensa daquela gargalhada. A vida homenageava a vida! Depois continuou tudo a cantar."
Frases de Bichos de Miguel Torga
Nunca tinha lido os Bichos de Miguel Torga. Sei que, ao que consta, agora as crianças devem lê-lo na escola já que faz parte do Plano Nacional de Leitura. Muito bem assim. Os Bichos é um livro despretensioso, uma obra de contos em linguagem de gentes, de bichos como gentes e de amor a Trás-os-Montes. Em poucas páginas escrevem-se comoventes histórias que não querem fazer chorar. O melhor sensação que ler Torga me dá é a de que as coisas tristes não são para nos fazer chorar, mas para nos desenhar um sorriso vago e melancólico sobre as fragas. Em cada conto dos Bichos, vemos o comprometimento do escritor com a humanidade e com a vida, a vida banal, a soma límpida dos dias. Um tratado de linguajar regional e antes de tudo, uma leitura prazenteira e obrigatória. Ler também o habilidoso prefácio do escritor.
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