O bem que veio por mal
O que é facto é que o encerramento do Jornal de Sexta foi um bem, resta saber se não foi um bem que veio por (algum escamoteado) mal.
Os cus de Judas
"...Lisboa, entende, é uma quermesse de província, um circo abundante montado junto ao rio (...) Lisboa começa a tomar forma, acredite, na distância, a ganhar profundidade e vida e vbração, Luanda enevoada subiu ao meu encontro..."
"O que fizeram do meu povo, O que fizeram de nós aqui sentados à espera nesta paisagem sem mar, presos por três fileiras de arame farpado numa terra que nos não pertence, a morrer de paludismo e de balas cujo percurso silvado se aparenta a um nervo de nylon que vibra, alimentados por colunas aleatórias cuja chegada depende de constantes acidentes de percurso, de emboscadas e de minas, lutando contra um enimigo invisível, contra os dias que se não sucedem e indefinidamente se alongam, contra a saudade, a indignação e o remorso..."
"Talvez que a guerra tenha ajudado a fazer de mim o que sou hoje e intimamente recuso: um solteirão melancólico a quem não se telefona, e cujo telefonema ninguém espera..."
"Queria desesperadamente ser outro, sabe, alguém que se pudesse amar sem vergonha, de que os meus irmãos se orgulhassem, de que eu próprio me orgulhasse..."
A obra que celebrizou António Lobo Antunes é, ao que consta, uma autobiografia, dos tempos do jovem médico em Angola. Com um ritmo de mestria e estrutura peculiar, o escritor conta-nos a sua história e desventura, à medida que se relaciona com uma mulher num bar, e posteriormente em sua casa. A história de Angola que nos é contada acaba, já de manhã, se me é permitido dizê-lo assim, quando a senhora se afasta do nosso personagem. O livro é violento na crítica que faz à Guerra Colonial; um documentário de factos frios, tal como se impõem, mas de sentimentos tépidos. Aliás, todo o livro é tépido, contado por alguém que se mostra vencido, onde a vida é uma derrota previsível. Esta amargura abraça toda a história e ajuda a relacionar o monólogo onde a personagem intercala frases dirigidas à sua interlocutora, com flash-backs da guerra em África.
A Queda
"Quando não se tem carácter, é preciso recorrer a um método"
"É preciso, pois, escolher um senhor, visto que Deus já não está na moda."
"Não espere pelo Juízo Final. Realiza-se todos os dias."
"Cada homem atesta o crime de todos os outros, eis a minha fé e a minha esperança."
"Nenhum homem é hipócrita nos seus prazeres."
Frases de "A Queda" de Albert Camus
Ensaio sobre a Lucidez
Nota: Perguntam Vós, porque é que ele mete isto numa letra tão pequena. Perguntam bem... Teimosias do Blogger...
Maçã podre
Quer um Mac fumadores ou não fumadores?
Privatizar o BPN
Memória das minhas putas tristes
“...é impossível não acabar sendo como os outros julgam que somos”
Frase do romance "Memória das minhas putas tristes" de Gabriel García Márquez
Uma história simples, naquele tom alegre e tépido da América Latina, sobre um escritor de 90 anos que, como sempre ao longo da sua vida, “vai às putas”. Desta vez apaixona-se, sem possuir a menina, virgem como ele tinha pedido, que a alcoviteira lhe apresenta. A história é circular, acabando mais ao menos no ponto em que começa, apenas pontificada por episódios de prostituição, de escritos para o jornal ou de recordações dos tempos idos. Depois é todo um cuidado pelo amor, uma reflexão sobre a sociedade na sua pobreza e preconceito, sobre os anos e a velhice, o que os outros esperam da velhice, da nossa e da deles, sobre o tempo... Mas tudo pueril. Aqui e ali, um episódio de pura fantasia já vista num filme qualquer. Sem querer sem injusto, não consigo achar na escrita latina, a potência das grandes escolas...
Tribunal de Contas, felizmente
Ainda o terminal de Alcântara
Está bem assim
Eis-nos de volta
Eles é que não são parvos!
Português: Olha, vai-se andando... E tu, pá!?
Espanhol: Muy malo! Tenemos mucho desempleo!
Português: Ah! Nós aqui também, mas vai-se andando...
Espanhol: Tenemos alguna esperanza porque el gobierno nos va a suportar, ya ha dicho que iba a cerrar algunas fundaciones e instituciones publicas porque tenemos que reducir el gasto del sector público.
Português: Vocês fecham fundações públicas?! Não sabia que isso era possível! Nós por cá criámos a Fundação para as Telecomunicações. E os nossos políticos vão sempre para lá nas reformas... Olha, ao menos não nos chateiam!
Português: Olha, nós estamos sempre. Não te preocupes com isso!
Espanhol: ¿No tienes miedo? No se sube el sueldo, no hay dinero para la justicia, educación o sanidad...
Português: Claro que vai haver! Foi por isso que votei PS, para haver isso tudo, e subsídio de desemprego, e SCUT, e modernidade.
Espanhol: Pero si el gobierno no tiene dinero, ¿como va hacerlo?
Português: Isso não é da tua conta! Somos independentes!
Os "Vencidos da Vida", a "Pasmaceira" e outras memórias
Certamente que haverá muitos tipos de silêncio. Um deles é o extenuado, outro o comprometido. O meu tem sido a simbiose de ambos. Comprometido com o que gosto, e com o dever académico, e extenuado pelo que não gosto, e com o dever que não tenho. Por isso, este blog têm-se humildemente acalentado de livros e de silêncios. De gestos subterrâneos que um dia, sei lá em que dia, sei lá se dia, virão a luz. O resto é sabido. Uma indignação surda para com a política escatológica e o alarve cúmplice da ignorância. Eles não se importam nem querem saber, e eu não me importo com eles, nem deles quero saber. Platão acabou A República dizendo “... e assim seremos felizes”; lá seríamos, aqui, ensurdeço dos panegíricos aleivosos, em cortejo silencioso e sem vontade de fazer parágrafos.
Europeus, o Tratado é importante
Assim como eu tenho o direito de achar que não é a figura de Ministro dos Negócios Estrangeiros da Europa, ou a usurpação, que tem sido contínua, da soberania legislativa de cada país, que levará ao bloco europeu coeso. Politicamente, como diz Carrilho, falta fundar a Europa. É, no meu entender, uma questão de identidade, salutar, de chauvinismo francês, de dependência alemã, de cepticismo inglês, de pobreza de espírito latino e de oportunismo da Europa Levante. Em relação ao Tratado de Lisboa, só a agilização do processo legislativo, onde agora o veto é muito mais difícil, poderá ajudar ao funcionamento real da Europa, com todo o perigo da imponderação que isso também poderá encerrar. Portanto, mais competências, mais responsabilidades; e agora vejam quem e que os partidos escolhem para ir para a Europa. Estamos conversados sobre o verdadeiro europeísmo dos Europeístas…
Perguntar-me-ão, porque centrei o foco desta análise no direito à discórdia Europeia. A resposta encontra-se na confrontação inversa, isto é, no dever à concórdia. Eu não quero uma Europa onde todos cumprem Carta dos Direitos Fundamentais, e a contratio sensu decreta-se para a República Checa o não cumprimento da Carta. Ou seja, o Tratado, que humanamente se tinha fundamentado e bem, na Carta, apresenta agora excepções; anuência cabal de que politicamente, não é por decreto que se funda uma Europa unida em valores. Mas há bem mais actos reveladores da falta de escrúpulo legislativo. Não querendo discutir a questão do referendo (isso dava um texto igual a este), não posso aceitar que se repitam referendos até a exaustão, ou depois no parlamento, haja um acordo parlamentar contrário ao sufrágio (França, Holanda e Irlanda). Também não posso ficar descansado com o subsídio, ou deverei dizer suborno, atribuído à Irlanda. E por fim, não quero um tratado de aprovação calendarizada, só para evitar que os Tories cheguem ao poder em Inglaterra antes da aprovação.
O projecto Europeu faz sentido, é desejável, mas alimenta hoje, fruto de uma assimilação de países e valores reductio ad absurdum, uma tarefa de fundação identitária bem mais árdua do que antes. A disparidade e a fraca aceitação pelos países embrionários dos países recém-chegados, leva a que políticos medíocres, com tiques absolutistas, e que apenas se reúnem no triunvirato de Bruxelas, aprovem um tratado onde os cidadãos em raro caso foram ouvidos e/ou esclarecidos. Europeu sim. Mas com seriedade.
Os sofrimentos do jovem Werther
Mas eu tive-a, apreciei esse nobre coração, essa nobre alma, cuja presença me engrandecia a meus próprios olhos tornando-me ainda maior do que era realmente, porque eu era tudo o que podia ser.
Estou contente, sou feliz, e, portanto, mau narrador.
Será quimera, Guilherme, o que nos torna felizes?
Vês tudo pequeno e mesquinho porque tu prórprio és mesquinho e pequeno!
O que mais me indigna são estas miseráveis distinções de classes. Compreendo muito bem que a desigualdade de condições é necessária à sociedade. Tem vantagens, de que eu próprio me aproveito; o que eu não queria era que ela me impedisse de gozar alguma alegria e de encontrar neste mundo, ao menos, uma sombra de felicidade.
Oh! O homem é tão efémero que até nos lugares onde tem a absoluta certeza da sua existência (…) aí mesmo se extingue e desaparece… E quão depressa!
Será então o destino do homem só ser feliz antes de possuir o uso da razão e depois de a perder?
Frases do livro "Os sofrimentos do jovem Werther" de Goethe
Não há muito a dizer sobre uma obra riquissíma, de linguagem prolixa e estrutura narrativa creativa e dinâmica. Expoente do Romantismo nas letras, e cuja carga dramática marcou profundamente o fim do século XVIII e a corrente literária a si adestrita. Apesar de não ser um apreciador da corrente, esta obra nunca repisa as mesmas sensações, antes potencia brilhantemente muitas das variantes de cada uma das sensações, o que não a torna uma obra lamechas mas um compêndio de expressividade. Brilhante.
Leituras
Johann Wolfgang Goethe