(Sem título)

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E se eu fosse tudo o que pretendesse ter sido?
Quem seria eu?
Seria eu? Mais eu do que sou?
Serei eu tão menos que o que devesse ser?
Serei eu o justo prémio de quem fui?
Serei eu quem tinha inevitavelmente de ser?

Terei eu, em minha mãos, a segurança de poder escolher,
Ser eu?
Terei na brevidade, no vento que me abraça, envolve e magoa,
O meu inimigo, o meu tempo todo, fugindo todo, acabando todo?
Terei eu fé em qualquer coisa que não exista e me faça existir?
Terei Mundo que me faça à sua semelhança, e Mundo que não exista,
E me chegue só na mente para me fazer ser quem nesse mundo seria?
Terei esse Ser? Serei esse Ser? Serei eu?

Nas páginas de um livro, nas notas silenciosas em palavras,
As linhas que leio e escuto, antes de as ler e escutar,
Tocam-me na minha Humanidade.
Que tenho,
Mesmo sem saber se feita de mim, se feita dos meus;
Se feita da vida vivida, ou da que não vivi;
Das vitórias e dos bramidos, ou da solidão e do silêncio;
Dos passos banais, ou da vertigem da euforia ao cansaço;
Da agonia da loucura, ou da loucura eloquente;
Do amor, da indiferença, da paz, da dor, do fim e da esperança.
Eu tenho a minha Humanidade.

Antes e depois tudo me é indistinto, insensível.
Eu duro, todo o Homem dura,
O que dura a sua Humanidade.


Pedro Carvalho 15/11/07

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