Análise política ao Novo Aeroporto de Lisboa

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Nesta semana que passou, muitos factos politicamente relevantes aconteceram em Portugal e no mundo. Por cá, dois que destaco, o aspecto óbvio, e um aspecto algo mais subjectivo, contudo único nestes últimos dois anos e meio.

Comecemos pelo essencial, dia 10 de Janeiro deu-se um passo introdutório importante e decisivo para a resolução de um impasse estratégico que assolou os últimos três governos democraticamente eleitos e o governo empossado do Dr. Pedro Santana Lopes. Falo obviamente do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL). Após escabrosas afirmações como as de Mário Lino em alguns despropósitos sobejamente divulgados na comunicação social, ou o discurso de Durão Barroso à data das legislativas de então onde as “pensões de miséria” e muita demagogia à mistura impediram que algum desenlace se desse, eis que finalmente se toma rumo, ainda que não consensual (nem partir para a Índia o foi). Num processo que a todos diz respeito, e que coloca a nu as graves insuficiências dos sucessivos governos no que à capacidade de gerir a pasta disse respeito, eis que se toma uma decisão. Entre o bloqueio dos ambientalistas no governo do Engº Guterres, ao renascer da questão com Sócrates, passando pelo “enterro ao embrião” a que foi votada a matéria no período Barroso, já se construiu um novo terminal na Portela e já se perdeu tempo, que mais que valer dinheiro, vale neste caso, o desprestígio dos governantes portugueses.

A individualização do problema protagonizada pelo Ministro das Obras Publicas ou pelo Ministro do Ambiente recentemente, são manifestações de falta de sentido de Estado graves, quase tão graves como o adiamento irresponsável no período em que o Dr. Durão Barroso assumiu o cargo de Primeiro-Ministro. Quando um assunto vital e estratégico não é bem gerido nem é seguro afirmar que se encontra bem entregue, algo vai muito mal nas instituições e no Estado. Tão mal, que a localização vencedora só ganhou força após estudo elaborado pela CIP (entidade privada), e se o Estado precisa de “empurrão privado” para equacionar todas as soluções, o Estado está em crise, e eu, que gostava de acreditar num Estado senão paternal, pelo menos responsável e lesto, fico alarmado.

À sociedade civil onde todos nos inserimos, cabe o triste espectáculo dos ataques vorazes com que cada um defendia uma ou outra solução sem perceber “um centímetro” de pistas de aviação. Nestes aspectos actuo sempre de igual forma, e deixo que a técnica se sobreponha à política. Não vislumbro qualquer perigo à democracia subjugar a opinião leiga à técnica. Foi no fundo isso que o Srº Presidente da República, na sua intervenção ainda em 2007 defendeu em relação à questão do NAL, opinião essa que subscrevo. Ainda no que à reacção civil diz respeito, destaque para a completa manipulação que os meios de comunicação realizaram em duas questões apensadas à principal. Em primeiro lugar, a questão da localização. Já vi partidas entre o Sporting e o Benfica menos disputadas que o “combate Ota Vs Alcochete”. No jornal gratuito “Global” por exemplo, o título era “Alcochete 4-3 Ota”. Tivemos também as reacções dos “sócios e simpatizantes” da Ota e de Alcochete nos horários nobre das televisões nacionais. Como sempre a culpa era do árbitro. Como disse anteriormente, em parte foi, mas se Portugal ganha com a opção tomada, e eu creio no estudo do LNEC, então todo o país ganha! Em segundo lugar assisti com particular interesse à subversão das palavras do Engº Mário Lino. O nosso ministro não tem pose de Estado nem grandes noções políticas a medir pelas suas declarações, e se um qualquer político com tacto nunca diria: “Jamais, jamais!”, também é justo dizer que ele apenas citava, não se estando a manifestar nesses termos. Mais grave que este episódio é a sua distorção. Preocupa-me enquanto democrata.

O segundo tema nacional da semana é a sondagem que retira pela primeira vez no ciclo rosa, a maioria absoluta ao PS. Sócrates sobe de popularidade, mas parece não estar bem rodeado. Ninguém pode por em causa a profundidade de reformas como a da Saúde, da Administração Pública ou as obras que este governo promete lançar. Todas estas medidas são necessárias para tornar o Estado mais eficiente e podemos estar perante o mais reformador e consciencioso governo Português desde o 25 de Abril. A questão é que em pontos estratégicos como a humanidade ou a proximidade, o Governo falha, e falha gravemente. A falta de comunicação, e a prepotência são as formas mais fáceis de “fazer obra”, mas são também as mais desastrosas eleitoralmente. Um Governo sem meio-termo governa só e fragiliza-se. E mesmo que a ausência de oposição (BE e PCP sem remodelação, PSD desencontrado e CDS “mal reencarnado”) sejam uma almofada confortável para o governo, este deveria em meu entender, ser mais PS. Caminhar firmemente é positivo, e louvo essa coragem tão rara de que hoje dispomos, mas é essencial perceber que se governa entre e para o povo.

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