Património

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"Louie Chesler está num hospital, a urinar sangue. Ida Singer não vê quase nada. Milton Singer não pode andar e está numa cadeira de rodas. Turro - lembras-te do Dick Turro? - tem cancro, coitado.(...) Conseguia, assim, não pensar inteiramente no seu tumor."

"A morte de um progenitor é horrível. Quando a minha mãe morreu, eu não fazia ideia de que me ia sentir como me senti. Metade, ou mais, da vida desaparece."

"- Era um merdas e um falhado e queria que eu também fosse um falhado. A miséria adora companhia."

Excertos de Património de Philip Roth

Um não-romance, obra biográfica romanceada; este é o tributo de Roth ao seu próprio pai. Confesso que poderei ter escolhido mal. Isto não é o protótipo de livro com que se dê o tiro de partida para qualquer escritor. Ainda assim, o livro segue o aspectos gerais que vejo em Auster ou até mesmo em Truman Capote. Resumindo, a literatura americana não me entusiasma por aí além. Injusto? Talvez, e Roth é um eterno candidato ao Nobel, mas as linhas soam sempre mais ao menos ao mesmo. A uma escrita escorreita mas demasiado despreocupada, onde o escritor entra em nós não como um ente genial ou um amigo de longa data a precisar de desabafar, mas num meio termo que me é incomodativo. De resto, é um livro sobre a morte anunciada de um pai e tudo o que isso acarreta. Melhor, é sobre o que isso provoca em nós. É sobre a morte sempre prematura, mesmo aos 86 anos; sobre a eterna compreensão depois de anos de mágoas geracionais; sobre a decadência que colhe a sabedoria; sobre a genética dos sentimentos genéticos. Nisso, este livro é bom.

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