"Não há nada que irrite mais uma pessoa enérgica do que a resistência passiva."
"Antes nunca experimentara mais do que a tristeza - não de todo desagradável."
"(...) essa mesma melancolia transformou-se em medo, aquela piedade em repulsa."
Excertos retirados do conto Bartleby de Herman Melville.
Conto perturbador e peculiar, de carácter simbólico, que assenta numa personagem sempre misteriosa, cujo comportamento heteróclito poderá representar um conjunto de sentimentos, estados ou representações filosóficas. Destes, destaco como os que me pareceram mais palpáveis: a depressão; uma espécie de solidão exausta, própria das doutrinas mais niilistas; um ensaio negativista sobre a completa liberdade do homem; ou por último uma representação metafórica da inadaptação do homem aos tempos modernos (note-se que o enredo passa-se em Wall Street). Mas mais do que tudo isto, o livro parece-me versar sobre o advogado inominado que narra a história. Através dele, observamos um contínuo debate interior entre a piedade e um certo funcionalismo social. Por um lado, existe neste advogado uma crescente afeição pelo desamparo de Bartleby; por outro, a vida social do advogado, os seus mesteres profissionais e deveres sociais, imprimem-lhe uma necessidade veemente de se livrar de Bartleby, o empecilho. De permeio, exala-se uma vaidade interior, a vaidade da caridade, e uma expiação da culpa que se faz por intermédio da acção de terceiros e da lei, isto é, tudo o que acontece de nefasto a Bartleby, é, à luz do advogado, meramente uma consequência natural da lei, accionada não por si, mas por um inquilino. Resta-me completar dizendo que o conto é-nos apresentado de forma muito breve - lê-se numa tarde - e escorreita, o que denota uma mestria particular do escritor, uma vez que escrever bem de forma simples é, se não a mais difícil, das mais difíceis formas de escrever.
Nota: A capa apresentada refere-se a uma edição espanhola. Apenas a escolhi por-me parecer a mais condizente com o livro. Em português, podemos encontrar o conto através da Assírio & Alvim. De qualquer modo, os tradutores dão nota de que existem divergências de tradução pelo que se recomenda a leitura do original.
"Antes nunca experimentara mais do que a tristeza - não de todo desagradável."
"(...) essa mesma melancolia transformou-se em medo, aquela piedade em repulsa."
Excertos retirados do conto Bartleby de Herman Melville.
Conto perturbador e peculiar, de carácter simbólico, que assenta numa personagem sempre misteriosa, cujo comportamento heteróclito poderá representar um conjunto de sentimentos, estados ou representações filosóficas. Destes, destaco como os que me pareceram mais palpáveis: a depressão; uma espécie de solidão exausta, própria das doutrinas mais niilistas; um ensaio negativista sobre a completa liberdade do homem; ou por último uma representação metafórica da inadaptação do homem aos tempos modernos (note-se que o enredo passa-se em Wall Street). Mas mais do que tudo isto, o livro parece-me versar sobre o advogado inominado que narra a história. Através dele, observamos um contínuo debate interior entre a piedade e um certo funcionalismo social. Por um lado, existe neste advogado uma crescente afeição pelo desamparo de Bartleby; por outro, a vida social do advogado, os seus mesteres profissionais e deveres sociais, imprimem-lhe uma necessidade veemente de se livrar de Bartleby, o empecilho. De permeio, exala-se uma vaidade interior, a vaidade da caridade, e uma expiação da culpa que se faz por intermédio da acção de terceiros e da lei, isto é, tudo o que acontece de nefasto a Bartleby, é, à luz do advogado, meramente uma consequência natural da lei, accionada não por si, mas por um inquilino. Resta-me completar dizendo que o conto é-nos apresentado de forma muito breve - lê-se numa tarde - e escorreita, o que denota uma mestria particular do escritor, uma vez que escrever bem de forma simples é, se não a mais difícil, das mais difíceis formas de escrever.
Nota: A capa apresentada refere-se a uma edição espanhola. Apenas a escolhi por-me parecer a mais condizente com o livro. Em português, podemos encontrar o conto através da Assírio & Alvim. De qualquer modo, os tradutores dão nota de que existem divergências de tradução pelo que se recomenda a leitura do original.
3 horizontes dispersos:
"I would prefer no to". É assim na versão original, que foi a que eu li.
Informação adicional: No Reina Sofia existem t-shirts com essa frase estampada. Só não trouxe uma comigo, quando lá estávamos, porque os preços chegam perto da extorsão.
Quem te deu esse livro merece o mundo ;)
Confere, "I would prefer not to" está em nota de rodapé na versão que TU me deste.
Curioso haver isso no Reina.
Beijinho de obrigado
é a melhor prenda que se pode dar :)
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