Pombal-Lisboa, a viagem

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Em viagem dou por mim feito criança. A culpa é mesmo de um dia ter sido só e apenas criança. Não é bem culpa... Culpa temos, se hoje adultos, frustramos a criança que se sumiu.
Penso nisso e dou a cara ao vidro do comboio, que me arranca dos pedaços de criança e me lança na gigante urbe que acolhe um adulto. Pombal-Lisboa, uma viagem que faz parte de mim.
Tento que ela nunca seja uma clivagem da minha personalidade, assim como tento honrar a criança que já precisa de ser homem aos poucos. E assim, como que numa introspecção exaustiva, faço viagens dentro de mim, enquanto viajo pelas estações do comboio. Tenho medo e consciência. Nunca o medo foi de ter consciência, mas por vezes, a consciência dá medo.
Se fosse tão criança como um dia fui...

Não viajava nem dentro nem fora de mim.
Não eram tão avassaladoras aquelas lajes, aquelas plataformas, aqueles arcos desenhados por Calatrava quando chego ao destino.
Não era tão impreciso o meu estado de espírito.

Aproveita menina. Aproveita enquanto o vidro te devolve apenas uma menina, e nada mais.

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