Fim de campanha. Começo de algo.

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Nobre saiu derrotado,até porque eu não concebo essas geometrias paralelas em que vários candidatos ganham as mesmas eleições. Mas isso, em nada retira o mérito da sua coragem, dos seus princípios de cidadania, da força motriz da ruptura que preconizava - e pela qual foi gravemente prejudicado em campanha - e, em última instância, de me ter feito votar em alguém, pela primeira vez, por profunda convicção.

Quero acreditar que estes princípios não colhem 14% dos nossos cidadãos, mas uma maioria alargada, e por vezes, as coisas começam assim.

Pobres mas ecológicos

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Tenho sido muito crítico das políticas do governo, particularmente no período mais recente. Contudo, e até porque a campanha que intermitentemente vem apoquentando as ruas me tem aborrecido, abro o ano - politicamente falando - com um elogio ao governo: o aparente sucesso da aposta nas energias renováveis.

Num certo programa do Esplanada Cidadania, e por exercício de coerência, referi que Portugal teria, pelas suas características geográficas, um claro trunfo no século XXI: as energias renováveis. Frisei aliás que esse poderia ser, desgraçadamente, o nosso único trunfo. Aqui chegados, é bem certo que Portugal não marca o passo de coisa nenhuma, nem define agendas, muito menos padroniza a energia-tipo utilizada na produção em massa dos dias de hoje. Contudo, a simples diminuição da dependência de combustíveis fósseis, e a consequente redução da famigerada factura energética, são, per si, factores de competitividade no longo prazo.

E se hoje, a energia verde está longe de ser barata, e por isso, eficiente, este é pelo menos um sector que reúne duas boas notícias; a saber: somos pioneiros, e esta apresenta tendências estratégicas no futuro.

As perturbações do pupilo Törless

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"... ajudam os jovens a caminhar sobre o terreno anímico, perigosamenete amolecido, destes anos em que temos de acreditar em nós, mas que estamos ainda demasiado imaturos para sermos de facto alguém com importância."

"Era a hora em que as pessoas se vestiam para algum encontro, ou resolviam ir ao teatro. E aseguir vai-se a um restaurante, ouve-se uma banda, fica-se um pouco num café. Conhece-se gente interessante. Uma aventura amorosa deixa no ar expectativas até ao amanhecer. A vida gira como uma roda mágica de onde saem sempre coisas novas e inesperadas..."

"Pois a primeira paixão adolescente não é amor por uma pessoa, mas ódio a todas as outras. Sentir-se incompreendido e não compreender o mundo não são coisas que acompanhem a primeira paixão, são, e isso não acontece por acaso, a sua única causa. E ela própria é uma fuga na qual o estar a dois mais não é do que uma solidão duplicada."

"Era a insuficiência das palavras que então o torturava, uma consciência vaga de que as palavras eram meros pretextos para aquilo que se sente." "Pouco a pouco o sonho foi abandonando Törless lentamente como uma colcha de seda que escorrega interminavelmente sobre a pele de um corpo nu."

Frases retiradas de "As perturbações do pupilo Törless" de Robert Musil

Este romance de Musil, o seu primeiro, acaba por ser um estranho texto ficcional, bastante duro - sem nunca ser profusamente descritivo - que retrata as incertezas e inseguranças de um qualquer pupilo de um colégio interno. O romance, ainda que seguindo uma linha cronológica, não tem uma história enraizada do princípio ao fim. Ainda assim, e incutindo algum terror temerário no leitor, acaba por prender a atenção. A escrita é rica, com vocabulário a aprender, e uma fluidez narrativa que, tendo em conta que foi um livro de estreia, impõem respeito. De resto, tem a marca de Musil, onde vale a pena depararmo-nos com as descrições psicológicas das personagens, e o detalhe - quase obsessivo - com o qual todo o romance se parece dedicar a esse mundo interior. Um pouco duro de ler, mas compensador.

Fábulas e alegorias políticas

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Recomendo vivamente a leitura do famoso Animal Farm de George Orwell bem como da fábula de Pepetela, A Montanha de Água Lilás. No primeiro, temos a URSS escarrapachada de modo sublime, desde a luta de egos entre Estaline e Trotsky, até à invasão Nazi passando alegoricamente por inúmeros aspectos da história, escamoteados de forma desarmante.


No segundo livro, trata-se de uma fábula curta que visa enaltecer a importância moral da resistência e da integridade, quer individuais quer colectivas. Ambas usam sociedades animais para retratar esta, tão mais animalesca - a humana- com inteligência e uma certa elegância expressiva.

P.S. Fruto da gentileza de um grande amigo, tenho aí uma edição antiga do Admirável Mundo Novo. Assim que o "despache", também aqui comunicarei. Entretanto, segue a luta com (nunca contra) as 1070 páginas em letra miúda de Guerra e Paz.