Morreu Saramago, e com isso, Portugal perdeu um grande escritor. Num país culturalmente atrasado, as elites tendem a circundar a cultura. Saramago, com maior ou menor nobreza, mas sempre com génio escorreito - de um trato popular tão simples de acontecer e difícil de retratar - esteve sempre nos antípodas daquilo que o classicismo cultural português quis fazer dele. Não interessa o que ele, a bem de Portugal, tenha conseguido provar internacionalmente, interessa sim o que deveria ser da mais elementar dignidade e literacia literária: reconhecer esta enorme perda. Como amante da literatura, português e leitor dos seus mais ou menos ensaiados romances, é-me indiferente o que os outros pensam, pois para mim é um dia triste. Infelizmente, o sempre anónimo e intrincado país onde ele, nos seus livros, ensaiava como poucos, parece teimar em ultrapassar os limites da decência, e os próprios limites jocosos onde Saramago retratava as figuras do "prestígio" e do poder. O melhor que se pode fazer pela memória literária de Saramago é fazer o que ele fez: fartar-se, ir-se embora, e para nós, lamentar a sua perda.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 horizontes dispersos:
Enviar um comentário