Uma classe ardendo a um ano de eleições

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Este artigo surge da vaga de contestação que inunda as escolas portuguesas. Existem dois motivos essenciais para discutir a reforma da educação. O primeiro relaciona-se com a qualidade da reforma. O segundo remonta à aplicabilidade e à aceitação das classes envolvidas.

Em relação ao primeiro aspecto, a reforma que parece contribuir para o laxismo dos alunos e da qualidade de ensino, já débil e deteriorada (analisando indicadores da OCDE) em circunstância alguma promove o governo. Aplicando conhecimentos que tenho no âmbito da aplicação de recursos públicos e privados ao sector da Educação, o Estado que em outros tempos teve como “paixão” o ensino, continua míope no que à sua importância diz respeito. A construção da competitividade empresarial e da óptima aplicação popular da democracia têm de se basear num tecido popular verdadeiramente instruído, assente numa educação que premeia o mérito, acompanha o futuro e não tem pejo em reprovar.

Já no que à aplicabilidade da reforma diz respeito, muito se tem dito. Os sindicatos, que têm na génese e na história recente a defesa da sua classe como única prioridade, têm-se portado, e dado os seus intuitos egoístas, divisionários e nada nacionais bastante bem. Porque se na verdade, é para defender a sua classe que existem, que melhor forma de o fazer que estalando a polémica, mobilizando-se e levando o governo a reconsiderar? Tem sido essa a única e exclusiva luta dos professores. A qualidade do ensino é obviamente secundária, sendo que tem a vantagem de servir de pretexto para a luta. Seria impensável imaginar uma sociedade democrática sem sindicatos, eles são a voz da classe e um sindicato está bem quando se faz ouvir, para o bem ou para o mal de todos os restantes que a essa classe não pertencem. Numa coisa Portugal parece concordar: os professores trabalham pouco e algo tem de mudar. Falha do governo: não consegue transparecer para a população que é esta a mudança que é precisa, ou por falta de capacidade de comunicação, ou porque não é de facto esta a reforma que se precisa. Eu corroboro na segunda hipótese.


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