Próxima Legislatura: E se o deputado 116 for do BE?

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Como já anteriormente referi neste espaço, as eleições legislativas em Portugal, cada vez mais próximas, aparecem na minha mente com a força de todo um mau cenário, isto é, estragarão a peça. O povo, em maior ou menor peso não irá ás urnas e os sobrantes elegerão um governo, certamente de maioria relativa, e acaso seja de Sócrates, entregam o poder relativo, a quem suspeito, só saber governar de maioria absoluta. Aí, honra ou crítica feita (deixando as discussões de cariz do regime de fora), a necessidade de coligações será um imperativo matemático, o poderoso centésimo décimo sexto deputado da Assembleia da República será conseguido mediante concessões imponderadas e falsos consensos.

Posto isto, importa perceber que forças políticas estão em condições de assumir a parceria, bem como as razões e condições da mesma. Em alguns pontos futurologia, noutros, simples aplicação prática do bastidor político. Numa dessas tantas aplicações práticas, a parca história de Democracia pós-Abril, mostra que o PS sempre teve mais dificuldade em formar governos, porque sempre teve dificuldade em assegurar maiorias absolutas. O PSD, o outro partido da alternância política, por seu próprio meio nos anos de governação do Profº. Drº. Cavaco Silva, ou pelo facilidade de união ao CDS-PP através das várias AD´s já constituídas, não raras vezes obteve a estabilidade política do “Deputado Cento e Dezasseis”. Realço ainda mais este ponto, pois ele já mostrou o seu carácter indubitavelmente marcante na política portuguesa, a caso do “Deputado Limiano”, o Deputado Daniel Campelo, com consequências nefastas para o PS, para a imagem do Engº. António Guterres, e em última análise para o país.

Se o cenário mais plausível se confirmar, maioria relativa para o PS e ascensão do BE a quarta, ou até mesmo terceira maior força política em Portugal, temo que o Engº. José Sócrates não resista a tentação de formar Coligação para obter maioria absoluta. O nosso Primeiro-ministro já mostrou por diversas ocasiões a sua necessidade de soberania. O governo está vincadamente centralizado na sua imagem, com ministros sem grande liberdade de intervenção. Nas reformas, necessárias e que tanto apoio, a necessidade de maioria absoluta é inequívoca. Ora, expostas as razões, importa visionar as opções. Com o PCP como histórica impossibilidade de coligação a nível nacional, o bloco central inviável como em tempos o foi, e ridículo como hoje o seria, o CDS-PP como uma votação residual e provavelmente insuficiente mesmo em coligação. Assim sendo sobra o BE. A coligação que daria a soberania ao Primeiro-ministro, expedia-o de senso e nexo político. É o caricato de estar amarrado voluntariamente, ao invés de aceitar a involuntária amarra da maioria relativa, dada pelo povo no acto da eleição. A isto resta acrescentar que o BE bem se tem “posto a jeito”, como é bom exemplo a coligação na Câmara de Lisboa. Se considerarmos as juventudes partidárias, as parecenças vão-se avolumando assustadoramente.

Prevendo que o acordo de coligação assuma que “boas pastas” do próximo governo estarão na esfera “Bloquista” as consequências serão nefastas e duradouras, quando não irreversíveis. Economia e Finanças terão de estar vedadas pois grande parte do capital sairia para o estrangeiro, na verdade todo o capital com possibilidade de mobilidade internacional, caso os planos fiscais do BE fossem implementados. A perda de empregos, bem como de produtividade seria imediata. A espiral trágica teria um retrocesso duvidoso. A igualdade e bem-estar social são metas difíceis mas aliciantes de alcançar. Contudo, certo será que sejam mesmo impossíveis se não se cuidar realisticamente da Economia de um Estado. Eu, como qualquer Social-Democrata (esse Ser de Esquerda que muitos confundem com Direita), empenho-me para a obtenção desses pressupostos. No panorama social, mais que percepção, a invocação liberal do BE, choca profundamente com os valores instituídos, e embora a evolução seja bem vinda, a progressão sempre foi um processo social mais saudável que o choque abrupto. Convictamente, acrescento que a reforma cultural proclamada é injusta, promove o desleixe e a vulgaridade intelectual, ao invés de ser promotora da coesão divide pela ostracismo e crítica vil a que são submetidos os que pensam de outra forma, assenta num multiculturalismo pueril e demagógico sem efeitos práticos onde assimilação é confundida com renegação da cultura instituída. Mas não só no reduto cultural se espalha o projecto lacónico do Bloco de Esquerda. Ideologicamente, trata-se de um partido, em todas as circunstâncias da sua ainda curta vida, anti-poder. Como se um partido se pudesse fundar na contradição de não poder ser poder! Uma mistura de Democracia com Anarquismo! Mais ainda, invoca um conceito de nova Esquerda, que mais não é que o projecto económico falido das Esquerdas totalitárias, com um novo rosto conseguido através das lutas desproporcionadas para mudar mais do que costumes, pilares fundamentais daquilo a que até hoje foi progresso. Este projecto conduz, em minha opinião sujeita a contraditório inteligente, à autofagia da sociedade tal como a conhecemos, e esse não é propósito da esquerda em que acredito. A esquerda da coesão e equilíbrio social, a esquerda da promoção do mérito para a inovação, a esquerda da ordem pública, a esquerda do Estado paternalista mas eficiente, a esquerda democrática, a esquerda das elites intelectuais e não políticas servindo o povo, a esquerda da independência judicial. No fundo o projecto da Social-Democracia Nórdica.

Em Portugal, esta Social-Democracia não é poder. Que a Coligação o também não seja.

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