De Pasmaceira me confesso, a Catarse

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Paro um momento. Tenho de me recompor… Expiar-me de demónios ociosos. Tenho de voltar a ser eu. Nunca como agora, o êxtase fácil me parece tão abismal! Um naco de carne suculento em pecado intelectual!

Deixo-me cair sobre a internet. Nada de relevante, na verdade, acontece nesta cadeira onde me sento, olhando para o computador. Desta realidade apercebi-me faz tempo. Nada fiz para reverter esta corrupção mental. Não posso estar a morrer aos vinte anos! É cedo demais. Se Kant me permitir, e seguindo a linha de Nietzsche, proponho o meu próprio Imperativo Categórico: “Não me deixar morrer na vida tépida”.

Desde que estou em Madrid, despeguei-me geograficamente de mim, nada de surpreendente. Coisa de pensar é o desprendimento intelectual. Os livros estão num canto do quarto, a poesia caiu numa sorumbática apatia, a prosa é vã ou versa banalidades, nos últimos tempos, banalidades políticas. Mais do que me faltar um produto de fundo, vêm-me faltando um espírito de fundo.

Estas linhas não são a redenção, mas sempre vão sendo minutos bem gastos, cumprindo o Imperativo Categórico, afinal, ainda não sou um “Vencido da Vida”. Amaldiçoo todo o tempo perdido, vem sido largo. Da “Pasmaceira”, Fantasma do Passado, fantasma de outras paragens, não me liberto nas primeiras guinadas de elaboração filosófica, literária, económica ou política.

Bem certo estava José Régio, dizendo no seu Cântico Negro: “Não sei por onde vou,/ Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí!”. Bem mais fácil se afigura ao espírito, o frequentado caminho da “Pasmaceira”, que qualquer outro, melhor na chegada, mais duro na travessia. Não sei onde chegar, mas quero esse de travessia incógnita. Esta foi a Catarse possível.

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