"Na sua voz noto rancor e tristeza; a minha explicação, conciliadora, só lhe causa desprezo."
"- Quando morreres, Udo, serás capaz de dizer «volto ao sítio de onde venho: o Nada».
- Quando uma pessoa está a morrer é capaz de dizer qualquer coisa - respondi."
"- E que é ser um alemão?
- Não sei exactamente. É, à partida, algo difícil. Algo que temos esquecido paulatinamente."
"O que é que eles têm a ver com este hotel que cai aos bocados? Nada, mas ajudam: confortam. Prolongam o adeus até à eternidade e fazem com que recorde velhas partidas, tardes, noites, das quais só resta não o triunfo nem o fracasso, mas um movimento, uma finta, um choque, e as palmadas dos amigos nas costas."
"E o que é que aconteceu?, perguntei eu, surpreendido. Nada. Beijou-te? Tentou, mas dei-lhe uma bofetada. Ingeborg e eu rimo-nos muito, mas depois a mim fez-me pena."
Excertos de O Terceiro Reich de Roberto Bolaño
Uma personagem principal confundida, desinteressada, introspectiva e amoral, envolta numa linha narrativa - que se constitui sob a forma de diário - absurda, sarapintada por personagens enigmáticas. Eis O Terceiro Reich de Bolaño; um livro vincadamente da escola absurdista ou surrealista, com um vocabulário simples, onde o principal foco de interesse se circunscreve ao narrador e ao seu jeito errático, passando levianamente sobre os acontecimentos, demasiado aborrecido para especular sobre quaisquer consequências. Infelizmente, a história acaba por ser, também por isso, um pouco pobre e repetitiva, e salvo raras excepções, nunca alimenta um acontecimento que nos prenda a mais de dez ou vinte páginas. Enfim, uma obra com uma mensagem estética e literária - iconoclasta face a Garcia Marquez - muito definida mas que, sem o enredo e o detalhe psicológicos que se exigem deste estilo, fica muito aquém de Camus, Sartre, Nietzsche ou Dostoievski, grandes escritores/pensadores neste registo.
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