
Do ponto de vista prático, este comportamento político disforme não surpreende. Deve-se antes às ligações políticas da Presidência, bem como ao clima de fricção institucional que os dois órgãos vivem. O PS denota de forma cada vez mais acentuada, estar em guerra com todos, com a oposição, com a Presidência, com sindicatos, com jornalistas, enfim com a comunidade que circunda qualquer partido ou governo democrático. No espectro prático, as reacções hoje amplificadas não passam de autodefesas dos próprios órgãos, face à sua encavalitada inserção no contexto actual.
O problema torna-se gravoso quando analisado do ponto de vista teórico, ou se preferirem, do ponto de vista da soma dos actos práticos. Como cidadãos, elegemos, financiamos e depositamos confiança política e até cívica nas instituições. Só assim faz sentido votar e viver em Democracia. Sempre que a Presidência se arrola em mesteres partidários quebra o principio da independência, ou por outra, quebra o elo de “Presidente de todos os portugueses”, porque para mim tanto me faz que seja fulano ou sicrano o candidato do PSD, mesmo enquanto eleitor! A mim o que me interessa não são as indicações de A ou B para certo lugar, mas sim a vontade, a ideia e o projecto que um tal de A ou B, por iniciativa própria, vem propor às urnas. E sendo verdade o vinculado, o PS, ao usar-se dos meios do Estado, via governo, para controlar os actos da Presidência, viola a lei e quebra o compromisso de solidariedade institucional para com o órgão máximo da República. A apropriação cria uma estalinista confusão entre Estado e Partido, uma promiscuidade inqualificável no seio de três instituições democráticas: Presidência, Governo e PS.
Ora, parece-me óbvio corolário desta notícia, e fazendo fé na mesma, que a guerra surda que se vive nas mais altas esferas do Estado em nada beneficia os legitimadores dessas instituições, os cidadãos, agrava o fosso entre a política e a sociedade civil desbaratando o pouco capital de confiança depositado pela sociedade na classe política, constitui péssima prática política, e põem em causa a fachada ferreamente séria das instituições Democráticas. Estes actos legitimam as dúvidas em torno do impacto que os interesses pessoais e partidários têm na defesa do interesse público, interesses antagónicos que chocam com vulgaridade e despudor. Bem certo estava Kant no seu imperativo, mas lamentavelmente, a razão prática das instituições carece da justeza, responsabilidade e ética adequada para se tornar lei universal. Pelo menos é este o meu aforismo.
1 horizontes dispersos:
Concordo que o tom do assessor do Presidente foi arrivista, bem como com o facto de isso prejudicar Belém. Felizmente, Sócrates manipulou (no sentido inocente do termo) o problema com "cascos", com aquela tirada do "disparates de Verão".
Ao comentar o mesmo tema no blog do João Alvim conto a história de um assessor do PM que acompanhou Cavaco Silva à Madeira e se fartou de andar à cuca de conversas, segundo testemunhas. Terá sido ele a dar origem a este caso.
In other news, não vejo mal nenhum na possibilidade de assessores de Cavaco colaborarem no programa eleitoral do PSD, desde que não recebam por isso. E saibam manter a ética profissional através da "separação de águas". Afinal de contas, o nosso ministro da Segurança Social, Vieira da Silva, é o coordenador de campanha do PS. Isso deixa-me mais desconfortável, mas suponho que seja por um ministro ser mais visível e, para não parecer que tenho dois pesos e duas medidas demasiado diferentes, vou aceitar estas práticas. Verdade seja dita, Vieira da Silva ainda não fez nada de mal neste aspecto.
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