Com grande apreensão e tristeza assisto ás inevitáveis metamorfoses a que as “negociatas”, sobre a forma de negócios nos obrigam. Desde o tempo do Império, Portugal vive incontestavelmente para fora, quase de forma tão exacerbada que nos leva a comemorar o aniversário do exílio da corte no Brasil... Antes, o Integralismo Lusitano Monarca e a posteriori o Colonialismo na pele de Provincianismo Ultramarino mostravam que a elite intelectual portuguesa, vivia indubitavelmente num paralelo intocável com o resto do Humanismo Europeu. Não está em causa a correcção das premissas, das quais sou crítico franco, mas o facto histórico de que Portugal se achou integrado no império, custasse isso o que custasse, até mesmo a perda de discernimento de que, mais do que imperial, o Portugal Europeu teria sempre vocação de Metrópole. Hoje somos a Província Adjacente, fruto da pequenez, ontem ideológica que definhou o poderio intelectual português geralmente exilado ou perseguido, hoje negocial, de quando em vez moral.
Numa análise recente, a matriz ideológica portuguesa mudou inegavelmente nos últimos 35 anos mas a pequenez, por esta ou por aquela razão, ou falta dela, tem potenciado o definhar da nossa pátria octacentenária. Tocámos os extremos do ridículo e não cessámos de passar de um a outro. Desde o profundo nacionalismo antiquado, embora fundamentado, lacerante e de espírito inquisidor, até ao uivo da liberdade que nos fez esquecer, através da descolonização arritmada e sem critério, apelidada de possível à data, que em nada dignifica o nosso traço civilizacional. Mais acrescento que o primeiro extremo que nos conduziu a uma guerra despropositada no tempo e excessiva no espaço pode ter conduzido à errática resolução da descolonização em termos tão perniciosos para Portugal e Colonos.
Mas não terá sido certamente por recalcamento de uma época que eu próprio não vivi que escrevo este texto. Escrevo-o porque essa mesma pequenez lê-se nos jornais, escuta-se na rádio e na ignorância da massa popular, vê-se na paupérrima televisão. Portugal é economicamente um país periférico, cresce ao ritmo que pode e jamais ao ritmo que deve, a balança de pagamentos é mais do que crónica, é historicamente deficitária, o nível de inovação é crescente mas incipiente, e perante as debilidades, a detenção das grandes empresas nacionais privadas, algumas delas resultado de privatizações, está ameaçada pela exposição destas ao mercado selvático. As últimas notícias vindas de Angola indicam que o Estado angolano, através do controlo da Sonangol, pretende transferir os centros de decisão das empresas portuguesas que se encontram em Angola para Luanda, retirando esse mesmo centro de Lisboa. As empresas portuguesas de paternalismo bacoco e ingenuidade comercial aceitam condições de mercado condicionado absolutamente desproporcionais, na vã esperança de obterem quotas de mercado que, numa análise realista, serão ocupadas por companhias chinesas e coreanas. Antes, já a Cimpor tinha sido praticamente obrigada a vender ao estado angolano a sua participado em Angola num processo que mais não foi que uma nacionalização. Os nossos governantes vão a Angola, a integridade da nação é vendável ao preço do petróleo e tudo fica na mesma. Assim se arrasta o desprestígio português. Anos antes, a União Europeia, sob a égide da abertura civilizacional, abre o mercado europeu à China. Pura falácia. A China é um regime tão antidemocrático como o Iraque, viola direitos humanos, de imprensa, desrespeita a integridade no Nepal e pelo meio vê-lhe concedidos abertura económica (relações com a UE) e abertura civilizacional (J.O. Pequim 08). Nada disto contou para impedir a entrada de China no livre comércio internacional. A razão é estritamente económica, pois a China é um enorme mercado para exportar maquinaria das grandes potências industriais europeias.
Poderia enumerar vários casos chocantes onde a globalização canibalesca, e não a globalização saudável e possível actuaram de forma clara. A domínio dos blocos económicos sobrepõem-se aos espíritos nacionais esmagando-os. Só assim se percebem os fenómenos concertados de isolacionismo e boicote a alguns países, quando outros com regimes bem mais contrastantes com os ocidentais passam incólumes. Só assim se percebe como naturezas organizacionais se sublevam à natureza histórica de uma nação.
Lamento a noção puramente fronteiriça que as gerações de políticos do presente e expectavelmente do futuro têm de nacionalidade, talvez devesse ser melhor entregarem o B.I.
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