Coisas lá deles

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As trocas e baldrocas no Benfica começam a ser um caso de ficção científica... Dos três, o Rui Costa deve preferir o da esquerda, o Vieira o da direita e os benfiquistas do "Mister" do meio...

Ah! É verdade, nada que não se estivesse já à espera...

Era Vital a seriedade

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Nesta campanha fraquíssima era vital que houvesse seriedade. Era o mínimo a exigir. Todos os partidos têm levado o debate para a questão nacional, o que só mostra o desconhecimento, a demagogia e o aproveitamento rasteiro da matéria europeia. Depois, alguns deles, em especial o PSD de Paulo Rangel, com afirmações como "Sinto-me a concorrer contra Sócrates" demonstram a falta de seriedade, porque Paulo Rangel não é insensato, logo tem sido pouco sério. Para aqueles que, como eu, se iam refugiando na ideia de que era Vital a seriedade desta campanha, nos últimos dias Vital trocou-nos as voltas. Ou seja, com as afirmações proferidas sobre o caso BPN por Vital Moreira, percebemos da forma mais dramática, como era vital que houvesse seriedade e como Vital não era a seriedade deste périplo eleitoral.

Acima de qualquer outra coisa está a seriedade. Vital não esteve lamentável e inexplicávelmente à altura do acontecimento. A minha seriedade, que não conta nada para os Srº da má e única política em Portugal, diz-me que só posso censurar as recentes declarações de Vital Moreira.

Ter razão antes de me ser dada

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Como eu já vinha aqui dizendo faz tempo, algo se andava a passar. Finalmente a ERC diz o mesmo. Nada vai mudar, é certo, mas agora, isto, ou isto que aqui escrevi deixam de ser exageros.

E é bom saber que aquilo que se poderia apelidar de puritanismo da minha parte, não é mais do que uma crítica bem mais atempada e atenta do que a que entidade responsável fez hoje.

Na minha terra chama-se azelhice

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Os últimos desenvolvimentos sobre as festas do Bodo tem sinais claros. Sinais políticos e sobretudo económicos. Fazendo fé nas palavras de todos os intervenientes, e faço, não houve corrupção. Pronto, não se fala mais nisso! Mas houve muita irresponsabilidade e incompetência, pois não se falham estimativas de resultados de festas regionais (para que não digam que eu as acho locais...) por mais de 200 mil euros. Não há espaço para provincianismo nas contas autárquicas.

Administrar festas prevendo valores sem IVA (que é logo um quinto das receitas) e sem partes integrantes das festas é gestão incauta.

Ranking do novo vício

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Depois da honrosa, mas também penosa, convocatória que o João Alvim me fez no seu blog, segue a minha lista de Séries. Note-se que será uma lista feita por um leigo, o que perdendo interesse, ainda poderá servir para algum psicólogo aferir do meu estado, ou então para se perceber as séries que entram pelos olhos dos leigos...

Monty Python's Flying Circus - Não tive oportunidade de ver, mas o youtube e um amigo meu que é fanático e me passou links fizeram fã.

Sim, Sr Ministro
e Sim, Sr Primeiro Ministro - Há muito muito tempo, na RTP2, e era muito bom. A série que mais que política, era um entendimento político.

O Tal Canal -
Só não é a melhor série portuguesa de sempre porque...

Herman Enciclopédia
- O Herman depois fez esta.

Os Contemporâneos - Gosto disto à brava...

American Dad
- A série animada para conservadores e texanos não verem.

Family Guy - O Non Sense é aqui, ás vezes cansa-me, mas é incontornável.

Dragon Ball - A minha infância é pedir à minha mãe para me meter no horário da tarde na escola, acordar às 9:30, comer chocapic e às 10h ver o Dragon Ball. Ainda hoje não me arrependo disso.

The Simpsons - A minha série favorita.

Dr. House - Quando se faz de pai do Stuart Little ninguém espera que a seguir se faça um Dr. House. Hugh Laurie conseguiu-o e a série vale por isso. Pronto ok, pela Cuddy também.

Californication - Obrigado Mesquita. A começar a gostar...

Equador - Com toda a seriedade, até porque há tendência a aferir a qualidade desta série pelos seios supinos que se descobrem nela, é algo que não perco, e que a sair em DVD quererei comprar. Boa história, bom contexto, boa fotografia. Excelente o papel de Bernardo Valença. Como Portugal não mudou assim tanto, os Roceiros e o baixo funcionalismo público relatam assertivamente o nosso Portugal.

Futurama - Matt Groening passado dos carretos, e eu gosto.


Três notas: I-Nunca vi Blackadder ou Seinfield o que é gravissímo ao que consta, algo a recuperar nas férias... II-Sim, não meti Lost. Talvez por nunca ter visto o primeiro episódio, ou por achar francamente estúpido carregar num botão, ter flashbacks ou ir a fóruns saber que raio de estátua era aquela. III- estranha-me que por essa blogosfera não tenho visto ninguém a colocar Star Trek.

Fatal Error (mas só a brincar)

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Só a título de curiosidade, queiram presados leitores saber que o meu Word não reconhece a palavra Democracia-Cristã nem Neoliberalismo. Mais informo que também não vou ensinar ao meu PC tais vocábulos... Já o meu Blogger apenas não reconhece a palavra "Cristã" o que é bem estranho...

Sem que seja de cor

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Saber de política e ser idóneo numa análise transversal e igualitária. Assim se escreveu este belo artigo sobre o Neoliberalismo. E como eu admiro todos aqueles que não se ficam pelo PS, PSD e os outros mas sim pelo Neoliberalismo, Democracia-Cristã, Social-Democracia, Marxismo-Leninismo, Maoísmo, Fascismo, Anarquismo… Enfim, quase há mais ideias que homens. Por isso leiamos e opinemos.

Veni, vidi, vici

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O Barcelona ganhou. Com isso ganhou o 4-3-3, infeliz forma de dizer que ganhou o espectáculo. Uma equipa com muita
cantera, raça, talento, um meio campo silencioso e imenso, um trio de ataque e um 10. Ganhou a tabelinha, o toque subtil, o drible sem movimento.

No meio de tudo isto o Barcelona ganhou. A partida, o título e uma forma de jogar futebol que em 2006 e 2009 foi fantástica. Parece que o Barcelona se tornou Messi(ânico) nessa forma de jogar bonito vencendo. Cruyff deve estar a chorar de comoção, e nós que nem somos do Barcelona, dormimos hoje futebolisticamente no repouso blaugrana.


Guardiola, ganha Campeonato, Taça e Champions. Ganha também o melhor do mundo no papel, no relvado já o era. Tudo na sua primeira época de treinador sénior.

Veni, Vidi, Vici, diz hoje no Olímpico de Roma Guardiola, ao Senado Romano do futebol.



Esplanada Cidadania Blog

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Finalmente foram ultrapassados os problemas técnicos e de agenda! Assim sendo, quem perdeu o Programa 5 na Rádio Zero, pode agora ouvi-lo no Esplanada Cidadania Blog.

Assim que possível, será publicado o programa 6, programa que passou no Sábado passado na Rádio Zero.

Um caso além Fronteiras

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Já muito houvera sido dito pelos meus conhecidos e estimados da secção de "Folhas Amistosas". Agora o caso penetra na estratosférica vida das "Folhas Soltas" através da indicação dada no Jugular. Este blog de orientação política tão conhecida como o seu próprio nome vem aqui dizer o que entende, citando.

Posto que já quase tudo foi dito por todas as bandas, com opiniões mais ou menos radicais e exacerbadas, mas todas elas próprias, sinto-me incapaz de dizer algo de novo.

Pessoalmente isto não me choca muito. Apenas a comparação disfarçada entre bloggers e criminosos me melindra. Acho que o Presidente da Câmara não percebeu bem o púlpito onde estava e discursou sobre violência, o que é uma interpretação muito pessoal, particularmente quando nos debruçamos na violência não-física. Acima de tudo, confundiu gravemente as suas opiniões (retrógradas julgo eu), com o propósito da visita. Fê-lo com exagero e brusquidão, absorto no espírito da Decádence como eu tantas vezes gosto de observar. Não lhe ficou bem.

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"Vejo jovens, meus concidadãos, cujo infortúnio é terem herdado quintas, casas, celeiros, gado e utensílios agrícolas, já que é mais fácil possuí-los do que libertar-se deles."

"O que um homem julga acerca de si próprio é o que determina ou, melhor dizendo, é o que marca o seu destino."

"Eis a vida, uma experiência que, em grande medida, não vivi."

"A maioria dos luxos e muitos dos chamados confortos da vida são não somente dispensáveis, como constituem um impedimento à elevação da humanidade."

"Todos os homens desejam, em vez de algo com que fazer, algo para fazer ou antes algo para ser."

"A falência e o repúdio são os trampolins onde boa parte da nossa civilização pula e dá saltos mortais, ao passo que o selvagem permanece imóvel na prancha inflexível da fome."

"É um erro supor que, num país onde existem as habituais evidências de civilização, a condição de um grande número de habitantes não está tão rebaixada como a dos selvagens."

"Os homens transformaram-se nos instrumentos dos seus próprios instrumentos."

"(...)vivemos esta vida miserável, porque (...) Julgamos que é o que aparenta ser."


Citações de Walden de Henry David Thoreau


"Onde Vivi e para que Vivi" é mais um belo livro desta edição da Quasi que faz um apanhado da obra Walden de Thoreau. Thoreau é um ensaísta norte-americano que funda a sua obra literária nas considerações de liberdade (bem presentes no seu livro "Desobidiência Civil") e no seu ambientalismo. Enquanto o primeiro tema é bem prosaico o segundo é bem mais lírico. Nesta obra temos toda a amplitude de pensamento de Thoreau, e ela é bem agradável, particularmente no que concerne ao sentido livre que Thoreau escreve, e assumiu, na sua vida. Aliás, Thoreau impressiona precisamente pela coerência entre a vida que levou e as ideias que defendeu, a ponto de tais experiências de vida lhe permitirem "ensaiar" apenas partindo das suas experiências. Um ensaio muito actual e de interesse redobrado para os críticos da mass society.
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"...e amava mais ternamente os cordeiros por amor ao Cordeiro, e as pombas por causa do Espírito Santo."

"Num dia de Verão resignou-se a fazê-lo e voaram borboletas do armário."

"Felicité chorou como não se choram os patrões. Aquilo de a Senhora morrer antes dela, isso, perturbava-lhe as ideias, parecia-lhe contrário à ordem natural das coisas, inadmissível e monstruoso."

"As ripas do telhado apodreciam; durante um Inverno inteiro o seu travesseiro esteve molhado. Depois da Páscoa, cuspiu sangue."



Citações de Um coração simples de Gustave Flaubert


É algo que todos têm de experimentar. Ler Flaubert é ler o expoente máximo do Realismo Francês, é uma questão de estudo, não de prazer literário. E por aí se ficou. Nada tinha lido de Flaubert e suspeito que, nada volte a ler. Bem certo está que o nosso gosto pelo romance realista vai mudando ao longo dos tempos, mas para já, Flaubert terá de ficar por aqui. É que juntamente com este conto, "Um coração simples", vem outro "A lenda de S.João Hospitaleiro", esta já bem mais interessante do ponto de vista literário, ainda que tão vago como o primeiro no conteúdo. Pessoalmente, longe de Eça ou Camilo.

O anacronismo político português

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Ainda referente à minha exposição face às relações Media-Política, ou por outra, e para que não haja confusões, face ao impacto cruzado entre Media-Política, segue este texto. O que é necessário, antes de qualquer outra coisa é perceber o papel dos Media, mais até do que dos políticos pois esse, bem que está referenciado quer no acto quer na literatura como são os reverendos casos de Péricles, Cícero, Aristóteles, John Locke e outros mais.


Os Media são um aspecto fulcral da vida política democrática. Por isso estão constitucionalizados em todas as Democracias soberanas, por isso os seus direitos são brutalmente violados nas sociedades fascistas, totalitárias, desiguais e persecutórias.

Os Media têm uma ambivalência bem funesta no caso português. De um lado as benefícios incalculáveis da liberdade de imprensa, e do outro os prejuízos de uma liberdade usada com malícia. Esta ambivalência prende-se com o facto de sob ameaça à liberdade de imprensa, todas as atrocidades são permitidas e tidas como exemplo político. O problema político da imprensa é que o senso político português imprime libertinagem à imprensa, em busca de uma liberdade que mais não é que um arquétipo platónico. O que de mais tenebroso saiu da revolução de 74 foi a ideia de que o respeito é sinónimo de fascismo e prepotência. Ora, sendo a Democracia o sistema político do mais elevado respeito, aquela forma de respeito em que conscienciosamente respeitamos o próximo e a maioria, facilmente se prevê o impacto desta amputação de que a nossa Democracia padece. Este problema que é relevante em todas as áreas da política, ganha notoriedade nos Media.


Verifico, com os múltiplos casos que envolvem aspectos legais das figuras públicas, que os Media extrapolam a sua liberdade e avançam doentiamente para o campo legal. O julgamento na praça pública, bem como todo o seu patrocínio jornalístico e legal (leia-se especulação e quebra do segredo de justiça) devem ser veementemente condenados. A Democracia só sai a ganhar com o bom jornalismo, não com o jornalismo sanguinário, até porque as sangrias sempre foram o último recurso para o pobre esqueleto amortalhado.


Por fim, a actividade política nada tem feito para inverter a tendência perversa da má comunicação, do jornalismo a duas cores (rosa e negro), do jornalismo irresponsável e sem ética que medra na libertinagem supra referida. Sempre que penso em Sócrates e no caso Freeport, e penso poucas vezes, tudo me parece cólera. Cólera de quem julga e de quem inadvertidamente defende Sócrates em sedes pouco próprias.

No fundo, todos vítimas da cólera, não pensaram que nem Sócrates nem ninguém, culpado ou inocente, merece o tratamento jornalístico dado a este caso. No fundo, todos vítimas da cólera, não pensaram que com uma boa classe política, este jornalismo não existia em Portugal. No fundo, todos vítimas da cólera, vivemos num sistema político democrático e avançado, e num plano jornalístico sensório e antiquado. É este o anacronismo político português.

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A devida vénia a mais um episódio excepcional de Contemporâneos. Começa a tornar-se um caso muito sério de humor, e já agora, de auscultação popular...

Da cidadania

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Ainda no Esplanada Cidadania do passado Sábado, brevemente disponível no Blog do Esplanada Cidadania, referi aquando do comentário ao caso Freeport (que foi o Tema da Semana), o que me parece ser o despudor dos representantes de cargos públicos. A sua delicada situação face ao afrontamento mediático dos Media deve-se, sobre qualquer outra coisa, à imobilidade e inabilidade política dos políticos que alimentam leis omissas num país onde pulula a promiscuidade lá do alto.

Ao ler este texto, além de não me senti só no exemplo (que houvera lido no jornal da manhã), senti-me bem acompanhado na percepção deste fenómeno. Uma classe política que merece os Media que tem.

O Horizonte da Alma XVII

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"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de se afastar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz."

Eclesiastes, 3

Agora a sério, ter dó é...

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De quem tenho mesmo dó é dos cidadãos. Envolvidos numa democracia nepotista que dá aso a este tipo de acontecimentos e de capas. O niilismo aqui tão perto... Nietzsche que me perdoe (como era um tipo extemporâneo ainda me vem cá a casa bater...) mas eu cá não dispenso os bons valores. Sem eles é que de facto somos a civilização da Décadence. A capa do Expresso e os próprios acontecimentos, não são mais que a prova viva disso mesmo.

Ter dó é...

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Pessoalmente tenho dó de Sócrates, é que com um primo destes jamais se vai a lado algum. Mas de quem tenho mesmo dó é de nós todos.

Coisas que dão gosto

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Recordar Eça.
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"Um dia de manhã, ao acordar dos seus sonhos inquietos, Gregor Samsa deu por si em cima da cama, transformado num insecto monstruoso."

"...Não será que, retirando daqui os móveis, lhe estamos a mostrar que já não temos qualquer esperança de melhoras e o entregamos irremediavelmente a si próprio."

"...era obrigação da família superar a sua relutância e ter paciência, apenas ter paciência."

"O que impedia a família de se mudar era sobretudo o seu total desespero e a ideia de que tinham sido atingidos por um golpe do destino..."

"Seria ele um bicho, quando a música o tocava assim?"

"A sua própria convicção de que deveria desaparecer era provavelmente ainda mais forte que a da irmã."


Citações de A Metamorfose de Franz Kafka

Deste clássico pouco ou nada há a dizer. Eis uma obra simbólica, com uma carga intimista e muito versada na solidão e na desesperança humana. Claustrofóbico, até porque tudo se passa num reduto exíguo e em decadência, a obra é perturbante, muito; e o fim é uma lição amarga do egoísmo humano, cabal no sofrimento, e do jugo da solidão que se abate sobre todos nós, em maior ou menor grau.

Um anúncio excepcional

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Melhor ir à volta

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Tenho e tenho-me ocupado bastante neste últimos dias. Isso levou-me a algum distanciamento perante este fenómeno recorrente que é a ausência de ordem pública no bairro da Bela Vista, entre outros. A grande diferenciação deste fenómeno não foi a sua singularidade mas a sua amplitude. Proponho para isto, uma análise esquemática.

As particularidades deste bairro facilmente permitem dois tipos de abordagem, a metódica e a estereotipada. Ora metodicamente, o que se passa nesse e noutros bairros são um conjunto de inúmeras insuficiências de cariz educacional, social, económico e urbanístico. Ir à raiz destes problemas levaria a uma resolução, ou minoração, dos mesmos. Discutir a forma de intervenção é eminentemente uma visão de curto prazo, que castiga um Ministro da Administração Interna que, a ser exíguo na sua actuação, deveria ter sido criticado pela política anteriormente seguida. Convenhamos que poucos são os que percebem como se faz a actuação policial num cenário de guerrilha urbana e perder o nosso tempo nesse âmbito, ampliará uma sensação ingénua de repressão, majorando o problema.

Posto isto, partamos a fundo na análise do tecido social compósito destes nichos habitacionais. Falando nós de bairros sociais, esses majestáticos centros de acção social da “Esquerdalha”, falamos de locais de habitação onde se concentra população carenciada, muitas das vezes enredada no labiríntico abandono escolar precoce, sem percepção de futuro e motivada para o carreirismo criminal. Nesta equação é preciso perceber que o delito é a corolário óbvio, levando o ónus do crime ao seu autor, bem como aos responsáveis pela elaboração do modelo urbanístico do “Bairro Social”. É que mesmo aquele que, sendo cidadão exemplar, é despejado para um Bairro Social, acaba brutalmente impelido à vida do crime e da desordem. Neste caso, lembro-me da inocência com que uma criança nasce aleatoriamente num local ou noutro. O problema da marginalidade é recorrente e a frágil ideia de reintegração ou de segunda oportunidade, transformada em casa gratuita que as políticas torpes de Esquerda motivaram, só denota a incapacidade política de resolver o problema na justa medida do betão.

Desprovidos de educação familiar e escolar, tornam-se frequentes cópias dos pais. Tornam-se aquilo que a mediocridade política julgava extinguir pelo gueto mas que apenas multiplicou. Como qualquer alfobre patológico, a atrofia social que aqui se cria cresce na exclusão, proporcionando o desemprego, o afogo económico e a consequente revolta, mais visível em tempos de crise económica.

Exploradas as insuficiências procuremos as iniludíveis causas. Façamo-lo na justeza que impele à resolução do problema e sem a caça às bruxas que atordoa a razão. Aqui participo da opinião de Vasco Polido Valente. A falência moral e o desprimor político de uma sociedade fortemente desigual reveste de razão a revolta. Chego até a pensar, não fosse o protesto desordeiro, na evidente justeza da causa. Tudo acompanhado por sucessivos governos que desprezam a luta contra a desigualdade, arrebatam munícipes com bonitos bairros sociais e limitam a discussão à questão da emigração. Tudo o que os sucessivos governos fazem, passa ao lado desta gente mortificada de miséria e envaidecida no crime.

Por isso impõem-se, mais do que um potente aparato policial, impõem-se um Fontes Pereira de Melo ou um Marquês de Pombal. Impõem-se um político pensante, estratega e com tempo para desenvolver um projecto de integração, incentivo, igualdade e luta séria contra a criminalidade. Para que não se oiça: "Filho, não passes por aí, vai à volta."

Estado Luso

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Ainda Voltaire

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É uma característica transversal das Magnum Opos da literatura; são perenes. Em O Ingénuo, algo de superior está patente que não a sua actualidade. Essa estará sempre enquanto o homem for homem. Refiro-me concretamente ao facto de a realidade portuguesa do século XXI aderir na perfeição, ao narrado por Voltaire enquanto “a Corte de Versalhes”. Esta será a razão que me impele a discorrer uns quantos apontamentos que regularmente faço sempre que leio um ensaio ou obra filosófica, e que neste caso publico.

A Lei Natural em contraponto com a Lei Positiva.

Sendo a Lei Natural mais própria ao instinto, carecerá o Homem de Lei Positiva? Carece na circunstância de que é um ser social. Social no seu complexo de razão e sentido, mais do que no âmbito da sobrevivência. É que porquanto que o Homem solitário sobreviveria no limiar, ainda assim perderia a humanidade que há em si, por esta ser própria do contacto. Aqui entra a Lei Positiva, forma de o Homem se auto-regular, de acordo com as suas necessidades sociais. A Lei Positiva parece-me em última análise, a resposta adequada para o Homem se assumir na sua forma social, e como tal, na sua forma superior. A Lei Positiva acaba por impedir segundo o meu entendimento de Voltaire, a negação do primado da Lei Natural que consagraria a Desordem Natural.

A Corte de Versalhes e o Clero Vs O Estado e os Lóbis.

Parece-me uma comparação eminente. Na verdade, a forma de corte descrita por Voltaire assemelha-se à situação actual naquilo de que imutável é feito o poder: o espírito dos Homens que o ocupam. Por isso, a vilania dos políticos será sempre a abjecção do Estado, a ode da guerra e da fome e o triunfo da injustiça. Em contraponto, o bem no bom posto (porque o cargo político é intrinsecamente bom por aquilo que pode fazer pelos terceiros) será a reprodução de Paidéia da Grécia Antiga e a formação de Guardiões como preconiza Platão em A Republica, a mais magistral lição não de política mas de formação política que até hoje li.

O Constrangimento Social no processo intelectual.

É inegável que aprendemos para saber, bem como é irrefutável que o saber é vantajoso perante a ignorância. Uma questão que sendo paralela passa frequentemente à margem destas evidências é que o saber como fonte de Verdade, é perturbado por constantes constrangimentos de ordem social, que na sua ausência levariam a um mais evidente escrutínio da Verdade. Note-se que o Ingénuo que Voltaire monta, é não mais que um inculto, que posto em contacto com o mundo livresco, facilmente ultrapassa os cultos franceses. Este salto qualitativo dá-se pela ausência de preconceitos, modas, tendências, gostos ou estereótipos na educação infantil, e consequentemente na área ininteligível da mente. O Ingénuo era um ser aberto à Verdade porque foi privado do constrangimento social.