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Jorge Palma- O centro comercial fechou

O centro comercial fechou
E a Maria vai viver a vida mais longe
Longe das ilusões
Em cima das situações
Perigosas

O Toino não morreu no mar
Acabou de adquirir um castelo na Escócia
Enfim, não é bem na Escócia
É uma cave sombria
Em Gaia

O passado já lá está
Raio de uma sorte cinzenta
E o presente é uma réstia de esperança enquanto houver saúde
Há que cuidar do aspecto
Fazê-lo parecer natural
Por mais que seja cruel não há ninguém que ajude

Ninguém nos ensinou a usar
Nada do que recolhemos pelo caminho
Perto das ilusões
Entre o amor e as razões
Perversas

O passado já lá está
Raio de uma sorte cinzenta
E o presente é uma réstia de esperança enquanto houver saúde
Há que cuidar do aspecto
Fazê-lo parecer natural
Por mais que seja cruel não há ninguém que ajude


Letra: Jorge Palma

O horizonte da alma II

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Uma inquietude

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Esta noite, sinto que toda a realização não chegaria. A realização a que chego, não me chega pois. Nem qualquer a que chegasse por dedicação ou talento chegaria.

Uma frustração momentânea e contudo espelho de uma permanência latente.

Não chega. Não me chega.

Não chega por indisposição nervosa da alma.

Constato que a fluidez do tempo e seu efeito nas memórias volúveis, faz-me ser sede de me ultrapassar, sem nunca me chegar.

Discursos que recomendo (política internacional)

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Na actualidade mundial recomendo que oiçam o discurso de Tony Blair em França. Deixo-vos a passagem mais deliciosa:

”Na América seria Democrata, no meu país sou Trabalhista, em França… Bem em França, provavelmente seria Governo.”

Amigavelmente, Sarkozy respondeu:

”Socialistas como Tony Blair teriam sempre lugar no Governo Francês.”

A ver ainda, discurso de Obama. Claro e astuto, defensor de reformas promotoras de um Serviço Nacional de Saúde geral e alargado para todos, bem como de um sistema de Segurança Social alargado às várias camadas da população. Acrescenta a isto, como bandeiras eleitorais, um perfil consciencioso nas relações Ocidente-Islão.

Análise política ao Novo Aeroporto de Lisboa

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Nesta semana que passou, muitos factos politicamente relevantes aconteceram em Portugal e no mundo. Por cá, dois que destaco, o aspecto óbvio, e um aspecto algo mais subjectivo, contudo único nestes últimos dois anos e meio.

Comecemos pelo essencial, dia 10 de Janeiro deu-se um passo introdutório importante e decisivo para a resolução de um impasse estratégico que assolou os últimos três governos democraticamente eleitos e o governo empossado do Dr. Pedro Santana Lopes. Falo obviamente do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL). Após escabrosas afirmações como as de Mário Lino em alguns despropósitos sobejamente divulgados na comunicação social, ou o discurso de Durão Barroso à data das legislativas de então onde as “pensões de miséria” e muita demagogia à mistura impediram que algum desenlace se desse, eis que finalmente se toma rumo, ainda que não consensual (nem partir para a Índia o foi). Num processo que a todos diz respeito, e que coloca a nu as graves insuficiências dos sucessivos governos no que à capacidade de gerir a pasta disse respeito, eis que se toma uma decisão. Entre o bloqueio dos ambientalistas no governo do Engº Guterres, ao renascer da questão com Sócrates, passando pelo “enterro ao embrião” a que foi votada a matéria no período Barroso, já se construiu um novo terminal na Portela e já se perdeu tempo, que mais que valer dinheiro, vale neste caso, o desprestígio dos governantes portugueses.

A individualização do problema protagonizada pelo Ministro das Obras Publicas ou pelo Ministro do Ambiente recentemente, são manifestações de falta de sentido de Estado graves, quase tão graves como o adiamento irresponsável no período em que o Dr. Durão Barroso assumiu o cargo de Primeiro-Ministro. Quando um assunto vital e estratégico não é bem gerido nem é seguro afirmar que se encontra bem entregue, algo vai muito mal nas instituições e no Estado. Tão mal, que a localização vencedora só ganhou força após estudo elaborado pela CIP (entidade privada), e se o Estado precisa de “empurrão privado” para equacionar todas as soluções, o Estado está em crise, e eu, que gostava de acreditar num Estado senão paternal, pelo menos responsável e lesto, fico alarmado.

À sociedade civil onde todos nos inserimos, cabe o triste espectáculo dos ataques vorazes com que cada um defendia uma ou outra solução sem perceber “um centímetro” de pistas de aviação. Nestes aspectos actuo sempre de igual forma, e deixo que a técnica se sobreponha à política. Não vislumbro qualquer perigo à democracia subjugar a opinião leiga à técnica. Foi no fundo isso que o Srº Presidente da República, na sua intervenção ainda em 2007 defendeu em relação à questão do NAL, opinião essa que subscrevo. Ainda no que à reacção civil diz respeito, destaque para a completa manipulação que os meios de comunicação realizaram em duas questões apensadas à principal. Em primeiro lugar, a questão da localização. Já vi partidas entre o Sporting e o Benfica menos disputadas que o “combate Ota Vs Alcochete”. No jornal gratuito “Global” por exemplo, o título era “Alcochete 4-3 Ota”. Tivemos também as reacções dos “sócios e simpatizantes” da Ota e de Alcochete nos horários nobre das televisões nacionais. Como sempre a culpa era do árbitro. Como disse anteriormente, em parte foi, mas se Portugal ganha com a opção tomada, e eu creio no estudo do LNEC, então todo o país ganha! Em segundo lugar assisti com particular interesse à subversão das palavras do Engº Mário Lino. O nosso ministro não tem pose de Estado nem grandes noções políticas a medir pelas suas declarações, e se um qualquer político com tacto nunca diria: “Jamais, jamais!”, também é justo dizer que ele apenas citava, não se estando a manifestar nesses termos. Mais grave que este episódio é a sua distorção. Preocupa-me enquanto democrata.

O segundo tema nacional da semana é a sondagem que retira pela primeira vez no ciclo rosa, a maioria absoluta ao PS. Sócrates sobe de popularidade, mas parece não estar bem rodeado. Ninguém pode por em causa a profundidade de reformas como a da Saúde, da Administração Pública ou as obras que este governo promete lançar. Todas estas medidas são necessárias para tornar o Estado mais eficiente e podemos estar perante o mais reformador e consciencioso governo Português desde o 25 de Abril. A questão é que em pontos estratégicos como a humanidade ou a proximidade, o Governo falha, e falha gravemente. A falta de comunicação, e a prepotência são as formas mais fáceis de “fazer obra”, mas são também as mais desastrosas eleitoralmente. Um Governo sem meio-termo governa só e fragiliza-se. E mesmo que a ausência de oposição (BE e PCP sem remodelação, PSD desencontrado e CDS “mal reencarnado”) sejam uma almofada confortável para o governo, este deveria em meu entender, ser mais PS. Caminhar firmemente é positivo, e louvo essa coragem tão rara de que hoje dispomos, mas é essencial perceber que se governa entre e para o povo.

Bom Ano

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Este blog já não merece promessas de novo ano.

Como tal, mais actualizações esperam-se nos próximos dias com a certeza que não tão brevemente quanto desejaria.

Mas para que o desânimo não paire, pelo menos no início do ano, eis a publicação de algumas "prendas" do ano que passou que só hoje tive oportunidade de publicar.

A todos, um Bom Ano 2008

Amigos

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Sempre há espaço para cair no deserto,
Sempre há fim,
Sempre o nunca existe sempre,
Sempre me esqueço,
Sempre me recordo,
Sempre sou,
Sempre estou e fico,
Sempre sonho,
Sempre amo.

Amigos.
Meus Amigos.

Jamais caí no deserto só,
Jamais não recomeçarei,
Jamais será nunca para sempre,
Jamais vos esquecerei,
Jamais recordarei sozinho,
Jamais graças a vós eu deixarei de ser,
Jamais hei-de estar e partir,
Jamais deixarei convosco de sonhar convosco,
Jamais amarei com esta mesma forma que vos tenho de amar.

Amigos.
Em vós sou feliz.
Meus Amigos.


Pedro Carvalho 12/12/07

Considerações sobre a Liberdade

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Saio da janela do meu quarto, e vou para o meu pequeno espaço. Os vidros reflectem luzes de grandes companhias que prestam serviços aos Homens. São bons serviços. E não me tornam um ser livre. Não tornam os Homens livres. Para essas grandes companhias trabalham muitos homens que dependem das grandes companhias, nenhum deles é livre. E os donos dependem dos trabalhadores, e das outras companhias e das outras coisas todas que o mundo tem. Quantas foram as pessoas escravizadas para eu poder hastear umas quantas luzes de natal?

Apetece-me negar a filosofia existencialista, suspeito sim. Sei que os Homens estão condenados. Estão condenados sim. E não é a morte que nos condena. Estamos condenados a não ser livres. Somos por tudo condicionados. Um homem pode ser livre sim, se for completamente feliz adormecido numa completa loucura. Mas nem esse homem se apercebe que é livre, porque lhe basta ser completamente louco para não ter a capacidade de se aperceber que é o único homem livre da Terra.

E eu, que tenho tantas mais liberdades que tantos homens, e tão poucas face a outros poucos, mais livres que eu, não sou livre também.
Acredito que a lei justa faça dos Homens seres livres, mas não acredito que os Homens façam a lei justa, não acredito que se todos os Homens tivessem essa vontade, alcançassem tal feito.

Não acredito em Deus, mas suponham todos por um momento que lhe tinha fé. Dele dependia, mesmo que do Deus mais perfeito e livre se tratasse, ele era perfeito, eu não, e perante ele, não era livre por minha fé ou por meu defeito.

Se eu amar toda a vida, uma mulher não livre por ser mulher, tal como eu não sou livre por ser homem e não Deus, serei eu livre nesse instante em que amo? Talvez por um instante. Mas o que é o Amor que nos faz livres? Por Amor se dá e se sofre. Temos de dar para ser Amor, temos de nos dar, não como uma obrigação imposta, mas por uma obrigação límpida que é o mais perfeito Amor, e a obrigação se mantêm. O amor não nos faz livres por uma estranha condição que é nunca nos bastarmos a nós mesmos para amar.

Ser feliz é ser livre, mas por mim vos digo que não sou eternamente feliz. E como o desejo como todos vós. E vós? Não são felizes eternamente certamente, e a felicidade não depende só de nós, mesmo que achemos que a nossa felicidade está só em nós mesmos, basta sermos incansáveis em desejo, basta sermos descontentes no sonho, e já o sonho que nos faz felizes nos faz escravos, e já o desejo que perseguimos nos faz descontentes na constante perseguição, e já o prazer que é prazer e nos faz felizes nos escraviza.

A inteligência e o conhecimento bem nos têm livrado de alguma desgraça, de algum mal, de algum azar, do desconhecido. Adia-se e vai-se adiando tudo o que queremos evitar, e qual faca de dois gomos potenciamos todo o mal que podemos fazer a nós mesmos. Acresce a isto que não se adia o cansaço de uma tristeza, o cansaço do sofrimento, o cansaço de não ser livre. E falo de um cansaço que pesa na alma e a prende.

Quando escrevo e penso, que eu tento pensar muito, só ganho consciência, não liberdade. Conheço gente mais corajosa que eu, e mais cobarde também. Conheço gente que me acha estranho e “tonto” como carinhosamente até me podem chamar. Reconheço-lhes liberdade para opinar sobre mim mas só tento ser um pouco mais livre. Talvez não valha a pena, sou tão escravo como eles, e talvez mais, se eles nunca se aperceberem de quão escravos se encontram na sua condição humana.
Depois as coisas, que são coisas sem sonhar, sem desejar, sem querer ser nada, quase que existindo sem pedir a existência, e à lei da gravidade estão sujeitas, à lei da morte perecem, à lei da erosão se expõem e à lei do esquecimento estão votadas.

Queria ter dito tudo nestas pequenas considerações sobre liberdade e não posso. Queria nestas pequenas considerações dizer tudo sobre escravidão e não consigo.

Estou inquieto, a cadência de existir impele-nos à escravidão de existir assim. Assim tão diferentes na humanidade que conservamos em nós, e assim tão iguais no cativeiro do ser.

(Sem título)

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E se eu fosse tudo o que pretendesse ter sido?
Quem seria eu?
Seria eu? Mais eu do que sou?
Serei eu tão menos que o que devesse ser?
Serei eu o justo prémio de quem fui?
Serei eu quem tinha inevitavelmente de ser?

Terei eu, em minha mãos, a segurança de poder escolher,
Ser eu?
Terei na brevidade, no vento que me abraça, envolve e magoa,
O meu inimigo, o meu tempo todo, fugindo todo, acabando todo?
Terei eu fé em qualquer coisa que não exista e me faça existir?
Terei Mundo que me faça à sua semelhança, e Mundo que não exista,
E me chegue só na mente para me fazer ser quem nesse mundo seria?
Terei esse Ser? Serei esse Ser? Serei eu?

Nas páginas de um livro, nas notas silenciosas em palavras,
As linhas que leio e escuto, antes de as ler e escutar,
Tocam-me na minha Humanidade.
Que tenho,
Mesmo sem saber se feita de mim, se feita dos meus;
Se feita da vida vivida, ou da que não vivi;
Das vitórias e dos bramidos, ou da solidão e do silêncio;
Dos passos banais, ou da vertigem da euforia ao cansaço;
Da agonia da loucura, ou da loucura eloquente;
Do amor, da indiferença, da paz, da dor, do fim e da esperança.
Eu tenho a minha Humanidade.

Antes e depois tudo me é indistinto, insensível.
Eu duro, todo o Homem dura,
O que dura a sua Humanidade.


Pedro Carvalho 15/11/07

Tributo à Poesia II

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Que esta folha lisa de papel branco,
Que mancho de tinta numa letra pouco perceptível,
Seja um renascer da minha mão,
Aos sonhos e à vontade que havia amparado em tantos versos.

Recordo docemente, com ternura,
Todos os sorrisos que me saíam das tristezas,
Feitas de uma vida que tinha e tenho,
Criando uma alegria artística.

Sempre foi essa a razão e a magia.
Ter na poesia a alegria de poder ser triste mas belo.
Só essa no fundo,
A alegria artística.

Tenho padrões, não assino por baixo.
Em tudo o que fiz e farei,
Apontei e aponto meus defeitos,
Contudo tenho-me ali,
Nos versos que vou ensaiando.
Quase sou feliz nesse espelho que é a poesia.

É verdade, eu só escrevo sobre mim…
Posso-vos contar histórias, ideais, ou nem vos escrever nada,
Que estou só e apenas contando o que sou.

Também risco e volto a fazer,
Algumas folhas nem têm porquê de servir,
Apago, e é o fim.
Mágoa em não poder fazer o mesmo ao que penso,
Ao que sinto, ao que recordo, ao que vejo, ao que dou,
Ao que pergunto, ao que toco, ao que quero,
Ao que amo, ao que magoo, ao que canso,
Ao que vivo.
Mas na poesia, eu posso.


Pedro Carvalho 11/07/07


*Nota: O título demonstra que se trata de uma sequela de poemas, todos com o mesmo nome. Edições que prefiro não revelar.